sábado, 18 de julho de 2020

Afonso de Albuquerque, 2.º Governador Português da Índia (1509-1515) - Expoente do Sonho Imperial de Portugal no Índico

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O português Afonso de Albuquerque foi filho de Gonçalo de Gomide, senhor de Vila Verde, e de D. Leonor de Albuquerque.
Terá nascido entre 1453 e 1462. Faleceu em 1515.

Moço fidalgo do rei de Portugal, D. Afonso V, serviu em Arzila (Norte de África) e na guarda pessoal do sucessor daquele, o rei D. João II (1455-1495), de quem foi estribeiro-mor.

Em 1503, cinco anos depois da chegada de Vasco da Gama à Índia (aqui) e três anos decorridos sobre o descobrimento do Brasil por Pedro Álvares Cabral (aqui), o rei D. Manuel I enviou Afonso de Albuquerque à Índia.
Seguia com ele o seu primo Francisco de Albuquerque, e cada um deles comandava três naus.

As ordens dos Albuquerque eram claras: combater Calecut, edificar fortaleza em Cochim e estabelecer relações comerciais com Coulão.
Os objectivos foram plenamente alcançados.

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De regresso a Portugal em 1504, Albuquerque foi bem recebido pelo rei D. Manuel.
Terá sido então que expôs ao soberano um vastíssimo plano imperial, visando a conquista de posições estratégicas no Índico, desde as portas de Bab-el-Mandebe até ao estreito de Malaca, vedando à navegação muçulmana a saída das especiarias pelo mar Vermelho.

Isto transformaria o Índico num verdadeiro mar reservado de Portugal.

Concordando com este programa, o rei mandou que Albuquerque regressasse ao Oriente em 1506, na armada de Tristão da Cunha.

Com ele levava um documento secreto que o nomeava governador da Índia em sucessão do vice-rei Francisco de Almeida que então ocupava o cargo (e cujo mandato findaria em 1508).

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Neste intervalo de tempo, Albuquerque ficaria como capitão-mor do mar da Arábia, patrulhando as costas e apoderando-se das posições que julgasse convenientes.

Com forças diminutas, naus mal equipadas e tripulações doentes, Afonso de Albuquerque conseguiu vitórias espantosas, tomando os principais portos do Omão e conquistando a riquíssima cidade de Ormuz, que fez tributária de Portugal.

A desobediência de alguns capitães indisciplinados e a oposição do vice-rei obrigaram Albuquerque a deixar a fortaleza em construção, dirigindo-se à Índia, onde D. Francisco de Almeida não só se recusou a entregar-lhe o governo, como o perseguiu e prendeu.

A chegada do marechal Fernando Coutinho, em 1509, pôs termo à insólita situação. O vice-rei Almeida teve de partir, passando os seus poderes a Albuquerque.

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Finalmente com as mãos livres, o novo governador principiou a série de triunfos ininterruptos, apesar da crónica escassez de recursos dos Portugueses na área.

Em 1510, chamado pelos naturais da bela cidade de Goa, oprimidos pelo jugo do turco Idalcão, Albuquerque apoderou-se da praça, que foi temporariamente abandonada devido à esmagadora maioria das forças turcas.
Seria recuperada a 25 de Novembro do mesmo ano, após renhidos combates.

Afonso de Albuquerque tratou desde logo de firmar o domínio português sobre bases de justiça e de consideração pelos nativos, ao mesmo tempo que procurava criar uma raça luso-indiana, casando os seus homens com mulheres da terra.

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Restos da porta de Malaca, mandada construir por Afonso de Albuquerque

Em 1511, Afonso de Albuquerque partiu com a armada para Malaca, de onde lhe chegavam apelos de portugueses aprisionados.

Não conseguindo entender-se com o sultão para a libertação dos mesmos, assaltou e conquistou a riquíssima cidade, defendida por 20.000 homens e elefantes de combate.

Depois de construir uma fortaleza em Malaca, largou para a Índia transportando um rico despojo, o qual se perdeu no naufrágio da nau capitania.

De regresso em 1512, achou Goa cercada pelos Turcos, mas libertou-a através de uma audaciosa manobra marítima e terrestre, tomando ao inimigo a fortaleza de Benastarim.

Os Portugueses no Golfo Pérsico e no Mar Vermelho
Verde claro com pontos azuis - Áreas sob controlo português.
Verde escuro - Soberanos locais aliados ou sob influência portuguesa.
Pontos amarelos - Principais feitorias portuguesas.

Em 1513, Afonso de Albuquerque conduziu a armada até ao mar Vermelho, tentando de passagem um assalto aos fortíssimos muros de Ádem, que se malogrou por se terem quebrado as escadas.

Prosseguindo a rota, entrou pelas portas de Bab-el-Mandebe, sendo o primeiro comandante europeu a navegar no mar Vermelho, que descreve num interessante relatório.

Passou o ano seguinte na Índia, em trabalhos administrativos e diplomáticos, tendo concluído pazes com Calecute.

Em 1515 dirige-se a Ormuz, a fim de acabar a construção da fortaleza abandonada em 1508. Desta vez não houve quem ousasse resistir ao conquistador, que tomou o rei local, que vivia amedrontado por ministros ambiciosos, sob a protecção de Portugal.

As chaves do Índico estavam, pois, na posse dos Portugueses.

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Monumento a Afonso de Albuquerque, diante do Palácio da Presidência da República
Lisboa - Portugal

Entretanto, no remoto Portugal, caluniadores invejosos conseguiram malquistar o rei com o governador que tão bem o servira, persuadindo-o a substituir Afonso de Albuquerque pelo seu inimigo Lopo Soares.

Quando, em Novembro de 1515, Afonso de Albuquerque, doente e exausto por nove anos de trabalhos em climas insalubres, partiu de Ormuz para a Índia, soube, por uma nau que passava, da chegada do seu rival, acompanhado dos seus piores inimigos.

Proferiu então a célebre frase: Mal com os homens por amor de el-rei, mal com el-rei por amor dos homens.

À beira da morte, ditou uma carta para o rei D. Manuel, lembrando-lhe os serviços prestados e recomendando-lhe o seu filho natural, Brás.

Acabou por morrer à vista da sua Goa bem amada, cujo povo o chorou em altas lamentações.



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Poucas vezes tem aparecido na história génio de maior envergadura do que Afonso de Albuquerque.

Foi ao mesmo tempo marinheiro, soldado, estadista, administrador e diplomata, colocando sempre as suas faculdades ao serviço de um único fim – exaltar o seu rei e a sua pátria.

Acrescente-se a isto um sugestivo poder de expressão nas admiráveis cartas que dirigia ao rei, as quais nos permitem acompanhar quase dia a dia a sua acção.

Trata-se de documentos únicos, escritos sem qualquer preocupação literária, em português simples e saboroso, uma linguagem forte e viva, que prende e impõe, dando-nos a impressão de contacto directo com a sua grande personalidade.

Os Portugueses na Índia (Séculos XVI e XVII)
Verde claro com pontos azuis - Áreas sob controlo português.
Verde escuro - Soberanos locais aliados ou sob influência de Portugal.
Pontos amarelos - Principais feitorias portuguesas.
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Texto adaptado de um artigo de Elaine Sanceau na Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura
(Editorial Verbo - Lisboa - Portugal)


A Voar por Cima Das Águas
(Fausto Bordalo Dias)
Do seu álbum Por Este Rio Acima,
inspirado na grande aventura marítima dos Portugueses.



Ó ai meu bem, como baila o bailador Ó meu amor, a caravela também Ó bonitinha, ai que é das penas, que é das mágoas Sendo nós como a sardinha A voar por cima das águas


Vai de roda quem quiser E diga o que tem a dizer (Certo!) Sonhei muitos, muitos anos por esta hora chegada
De Lisboa para a Índia vou agora de abalada Mas em frente de Sesimbra Logo um corsário francês Nos atirou para Melides Com o barco feito em três
E por Deus e por El-Rei Que grande volta que eu dei Ó é tão lindo, ó é tão lindo Ó é tão lindo, ó é tão lindo Ó ai meu bem, como baila o bailador Ó meu amor, a caravela também Ó bonitinha, ai que é das penas, que é das mágoas Sendo nós como a sardinha A voar por cima das águas Ena, que alegria enorme Uns mais ou menos conforme (Certo!) Mas que terras maravilha, mais parece uma aguarela Que eu vejo da minha barca branca, azul e amarela A Lua dormia ali e com o Sol em tal namoro Que as montanhas estavam prenhas e pariam prata e ouro Com Jesus no coração, faz as contas ó Fernão Ó é tão lindo, ó é tão lindo Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó ai meu bem, como baila o bailador Ó meu amor, a caravela também Ó bonitinha, ai que é das penas, que é das mágoas Sendo nós como a sardinha A voar por cima das águas
Mais cuidado no bailado Que andamos tão baralhados (Certo!)
Nunca vi bichos medonhos tão soltos e atrevidos Que nos fomos logo a pique c'o bafo dos seus grunhidos E todo nu sobre um penedo de mãos postas a rezar 'Té me tremiam as carnes por os não ter no lugar 'Inda por cima a chover vejam lá o meu azar Ó é tão lindo, ó é tão lindo Ó é tão lindo, ó é tão lindo Ó ai meu bem, como baila o bailador Ó meu amor, a caravela também Ó bonitinha, ai que é das penas, que é das mágoas Sendo nós como a sardinha A voar por cima das águas
Eh valente rapazinho A cantar ao desafio (Certo!) Matei mouros malabares, quem foi à guerra fui eu Afundei grandes armadas e o cargueiro francês Mas ao ver o cu do mouro foi tal susto grande e forte Qu'inté pestanejei e de todo estive à morte Siga a roda sem parar que a gente vai a voar! Ó é tão lindo, ó é tão lindo Ó é tão lindo, ó é tão lindo Ó é tão lindo, ó é tão lindo Ó é tão lindo, ó é tão lindo

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