Sitting Bull ao lado de William F. Cody ("Buffalo Bill") |
Após quatro anos de exílio no Canadá, Sitting Bull, o grande líder sioux, ficou preso em Forte Randall por mais de um ano. Mas, apesar da longa ausência, não tinha sido esquecido - nem pelo seu povo, nem pelos brancos, que o acusavam de ter sido o "matador de Custer". Durante o período de reclusão recebeu a visita dos chefes índios que viviam na Grande Reserva Sioux, entretanto criada pelas autoridades americanas: todos demonstraram júbilo por tornarem a vê-lo, honrando-o e desejando-lhe boa sorte. Muitos aproveitaram para lhe pedir conselhos sobre os problemas que os afectavam na Grande Reserva.
Também a imprensa dos Estados Unidos contribuiu para aumentar exponencialmente a fama do líder: jornalistas deslocavam-se propositadamente a Forte Randall para o entrevistarem, e as suas palavras eram sofregamente devoradas pelos leitores brancos.
Em 1884, já depois da sua admissão em Standing Rock, na Grande Reserva Sioux, o governo americano promoveu uma viagem de Sitting Bull por quinze cidades americanas - talvez uma forma de provar que o formidável inimigo de outrora estava definitivamente vencido e era agora inofensivo. O sucesso das suas apresentações ao público foi tão grande, que William F. Cody, o renomado "Buffalo Bill", o convidou para integrar o seu Show do Oeste Selvagem. Obtida a concordância das autoridades, o chefe sioux juntou-se ao Show no Verão de 1885 e com ele percorreu os Estados Unidos e o Canadá.
As aparições de Sitting Bull suscitavam um misto de sentimentos - assombro, fascínio e, também, hostilidade, porque o fantasma de Custer pairava teimosamente em seu redor. Por vezes, o chefe era acolhido com vaias e apupos. Todavia, era normalmente aplaudido no termo das exibições, e os espectadores ofereciam-lhe moedas para obterem as suas fotografias assinadas (ele aprendera a desenhar o seu nome - em inglês - com as letras dos brancos).
Cartaz do Show do Oeste Selvagem
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As moedas, ao que se conta, ficavam pouco tempo na posse de Sitting Bull. Com efeito, ele pudera testemunhar chocantes desigualdades sociais entre os habitantes das urbes americanas. A ostentação luxuosa de alguns contrastava violentamente com a miséria de muitos, e isso impressionava o líder sioux, acostumado à generosa solidariedade das comunidades índias.
Certo dia, conversando com Annie Oakley, uma das maiores estrelas do Show (exímia atiradora), Sitting Bull confessou-lhe que não conseguia compreender a revoltante indiferença dos brancos para com os seus pobres. E rematou: O homem branco sabe como fazer tudo… mas não sabe como distribuir o que faz.
Por consequência, a maioria das moedas recebidas no Show passava rapidamente das mãos de Sitting Bull para as dos meninos andrajosos e famintos que, atraídos pela sua fama, apareciam a rodeá-lo em todos os locais por onde passava.
No fim da digressão com o Show do Oeste Selvagem, Sitting Bull retornou à agência de Standing Rock, na Grande Reserva, trazendo dois presentes de despedida de Buffalo Bill: um enorme chapéu branco e um cavalo treinado para se sentar e para mover uma das patas quando ouvia disparos de armas de fogo. Mas Buffalo Bill ficara tão agradado com o desempenho do líder sioux, que, dois anos mais tarde, o convidou para acompanhar o Show numa viagem pela Europa. Sitting Bull recusou, dizendo que a sua presença se tornara indispensável em Standing Rock: os brancos - explicou - estavam a tentar reapoderar-se das terras da Grande Reserva que ainda se achavam na posse dos Sioux.
Catherine (ou Caroline) Weldon (1844-1921) |
Não obstante os acordos celebrados, as tentativas de recuperação das terras dos índios haviam começado logo depois da constituição das reservas, quando foi descoberto o valor das mesmas. No caso dos Sioux, após o esbulho dos seus territórios do Rio Powder e das Black Hills, o que sobejou foi uma extensão de cerca de 90 000 km2 - área considerável, mas que, segundo os técnicos, era praticamente desprovida de valor.
À medida que reconsideravam o juízo inicial e o que tinha ficado acordado, as autoridades (sempre pressionadas pelos rancheiros, garimpeiros, colonos e companhias de caminhos-de-ferro) procuravam levar os índios a assinar novos papéis - desta vez para se desfazerem das terras em que viviam.
Ainda durante o seu tempo de reclusão em Forte Randall, Sitting Bull fora consultado por vários chefes sobre a venda das terras que lhes era proposta. O líder aconselhara-os sempre a não se desfazerem do que possuíam - e possuíam legalmente. Manteve a atitude e o conselho após dar entrada em Standing Rock, o que, devido ao imenso prestígio de que gozava entre o seu povo, se tornou um sério obstáculo para os agentes encarregados do negócio.
A partir de 1888, o governo intensificou esforços para reassumir a posse das terras. Uma comissão enviada de Washington propôs aos índios a divisão da Grande Reserva em seis reservas menores e a venda de 36 000 km2 (mais de um terço da superfície total) ao preço de 50 centavos de dólar por acre. A ideia era entregar essa vasta área - constituída pelas melhores terras da reserva - aos colonos vindos do Leste do país.
Aconselhados por Sitting Bull, os chefes rejeitaram a oferta e os comissários não conseguiram o número de assinaturas necessário. Uma nova comissão surgiu, oferecendo um dólar e meio por acre. As recusas continuaram, pelo que os comissários passaram a recorrer à intimidação: se os índios continuassem renitentes - disseram -, o governo acabaria por ficar com as terras a troco de nada.
Por altura destes acontecimentos, Sitting Bull recebeu a visita de uma viúva de New York, pintora e filiada na Associação Nacional de Defesa dos Índios. Chamava-se Catherine Weldon (nalgumas fontes é identificada como Caroline Weldon).
Ela viajou até Standing Rock com o pretexto de pintar um retrato do famoso líder sioux, mas, com o tempo, acabou por transformar-se em conselheira e secretária deste, participando activamente na resistência ao roubo das terras. Como seria de esperar, isso valeu-lhe a feroz hostilidade da comunidade branca: foi insultada, caluniada e, até, fisicamente agredida.
Nota: Em 2017, Susanna White realizou um filme sobre o encontro e convivência de Sitting Bull (interpretado por Michael Greyeyes) com Catherine Weldon (Jessica Chastain).
O título da película é Mulher Que Segue à Frente (nome que os Sioux davam a Catherine).
Apesar de algumas imprecisões históricas, trata-se de uma obra interessante, de grande beleza pictórica e excelentes desempenhos dos dois actores mencionados.
Veja o trailer do filme:
À medida que reconsideravam o juízo inicial e o que tinha ficado acordado, as autoridades (sempre pressionadas pelos rancheiros, garimpeiros, colonos e companhias de caminhos-de-ferro) procuravam levar os índios a assinar novos papéis - desta vez para se desfazerem das terras em que viviam.
Ainda durante o seu tempo de reclusão em Forte Randall, Sitting Bull fora consultado por vários chefes sobre a venda das terras que lhes era proposta. O líder aconselhara-os sempre a não se desfazerem do que possuíam - e possuíam legalmente. Manteve a atitude e o conselho após dar entrada em Standing Rock, o que, devido ao imenso prestígio de que gozava entre o seu povo, se tornou um sério obstáculo para os agentes encarregados do negócio.
A partir de 1888, o governo intensificou esforços para reassumir a posse das terras. Uma comissão enviada de Washington propôs aos índios a divisão da Grande Reserva em seis reservas menores e a venda de 36 000 km2 (mais de um terço da superfície total) ao preço de 50 centavos de dólar por acre. A ideia era entregar essa vasta área - constituída pelas melhores terras da reserva - aos colonos vindos do Leste do país.
Aconselhados por Sitting Bull, os chefes rejeitaram a oferta e os comissários não conseguiram o número de assinaturas necessário. Uma nova comissão surgiu, oferecendo um dólar e meio por acre. As recusas continuaram, pelo que os comissários passaram a recorrer à intimidação: se os índios continuassem renitentes - disseram -, o governo acabaria por ficar com as terras a troco de nada.
Por altura destes acontecimentos, Sitting Bull recebeu a visita de uma viúva de New York, pintora e filiada na Associação Nacional de Defesa dos Índios. Chamava-se Catherine Weldon (nalgumas fontes é identificada como Caroline Weldon).
Ela viajou até Standing Rock com o pretexto de pintar um retrato do famoso líder sioux, mas, com o tempo, acabou por transformar-se em conselheira e secretária deste, participando activamente na resistência ao roubo das terras. Como seria de esperar, isso valeu-lhe a feroz hostilidade da comunidade branca: foi insultada, caluniada e, até, fisicamente agredida.
Sitting Bull retratado por Catherine Weldon (1890)
(Historic Arkansas Museum - Little Rock - Arkansas)
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O título da película é Mulher Que Segue à Frente (nome que os Sioux davam a Catherine).
Apesar de algumas imprecisões históricas, trata-se de uma obra interessante, de grande beleza pictórica e excelentes desempenhos dos dois actores mencionados.
Veja o trailer do filme:
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