sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Soneto (Luís de Camões)


 
A formosura desta fresca serra,
e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros,
donde toda a tristeza se desterra;

o rouco som do mar, a estranha terra,
o esconder do sol e dos outeiros,
o recolher dos gados derradeiros,
das nuvens pelo ar a branda guerra;

enfim, tudo o que a rara natureza
com tanta variedade nos oferece,
me está (se não te vejo) magoando.

Sem ti, tudo m'enoja e m'aborrece;
sem ti, perpetuamente estou passando
nas maiores alegrias, maior tristeza.


Luís Vaz de Camões (Portugal) - 1524(?) - 1580
(Saiba mais sobre o maior dos poetas portugueses - aqui)

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