sábado, 22 de maio de 2021

Eça de Queiroz e o navio de guerra "Índia" (1872)





"O Índia, o melhor navio que temos, o navio novo, expressamente feito para uso do País, comprado com madura reflexão, examinado com escrupulosa ciência, glória da nossa Marinha, defesa das nossas colónias, garantia da nossa honra, o Índia, que sábias comissões aprovaram, que uma recta imprensa exaltou, que professores da Escola Normal celebraram, que é o nosso transporte para a Índia, que custou muitas mil libras, que é novo, perfeito, impecável, o Índia – mete apenas cinco polegadas de água por dia!

Louvemos a Providência em humilde atitude: o Índia podia não ter fundo!

Mas não, o Índia é novo e bem acabado, é o nosso glorioso vaso, ele conhece, ele sabe o brasão heróico que tem, compreende a responsabilidade que arvora, vê que lhe cumpre sustentar o nome da Lusitânia; e portanto o Índia, com uma moderação que nos comove até às lágrimas, o Índia, o Índia querido e estremecido – mete apenas cinco polegadas de água por dia!

E todavia o Índia podia – quem lho impediria? quem ousaria coibir-lhe a nobre vontade? - o Índia podia não ter casco! O Índia poderia não ter costado!

Mas não, o Índia sabe os deveres da boa educação e a moderação de um procedimento honesto: o Índia limita-se a meter apenas cinco polegadas de água por dia!"

(Eça de Queiroz - As Farpas - Janeiro de 1872 - Lisboa - Portugal)

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Marcha dos Marinheiros
(Vídeo de Sebastiam Mello)


Os marinheiros aventureiros
São sempre os primeiros na terra ou no mar
Ao ver as belas pelas janelas
Soltam logo as velas para as conquistar

Ao navegar sobre as ondas desde Goa
Nós viemos a pensar
Nas meninas de Lisboa
Desembarcados, mesmo assim, os marinheiros,
vamos ficar ancorados
A uns olhos traiçoeiros

Salgadas pelo mar as nossas bocas vêm
Vêm procurar o mel que os beijos têm
Que é tão bom para as adoçar

Largamos vela da ribeira de Pangim
A pensar numa janela
Enfeitada de alecrim
Entrando a barra, mal a nau chega a Belém
O marujo deita amarra
À mulher que lhe convém.

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