segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

O RISO DE MÁRIO SOARES (1924-2017

 



 
"Uma vez, era ele Presidente e eu jornalista, encontrámo-nos entre cabinas de um avião, num voo presidencial sobrevoando a Ásia. Como sabia que ele gostava de anedotas, perguntei-lhe se sabia a anedota sobre a sua própria morte.
Respondeu-me que não e eu contei-lha:
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Mário Soares morre e vai ter com São Pedro para pedir para entrar no Paraíso. Depois de consultar o seu computador, São Pedro responde-lhe que nem pensar: "Tu foste um pecador horrível, vais é para o Inferno!"

Mas Soares insiste, justifica os seus pecados, pede clemência. E São Pedro reconsidera: "OK, vou pôr-te à prova: durante dez anos, dia por dia, do acordar ao adormecer, tu vais estar sempre ligado à madre Teresa de Calcutá e sem nenhuma relação com mais quem quer que seja. E, daqui a dez anos, se te portares bem, logo se vê."

Sem nenhuma escapatória, Soares aceita. Mas, assim que arranca, de mão dada com a madre Teresa, vê Cavaco Silva de mão dada com Madonna. E, aí, Soares passa-se, volta atrás e diz a São Pedro: "Está bem que eu fui um grande pecador. Mas o Cavaco foi algum santinho para ter como penitência a Madonna?"
Ao que São Pedro lhe responde: "Calma, Mário, essa é a penitência da Madonna!"
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Nessa noite, nesse avião, algures no céu da Ásia, Mário Soares ia-se engasgando a rir com a anedota que eu lhe contei sobre a sua morte. 
Estávamos os dois vivos, a Ásia estava lá em baixo e a morte era apenas uma anedota.
Mas não tenho a certeza se agora, voando lá em cima sobre o mundo, ele não estará a desafiar as regras estabelecidas da eternidade."
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Narrado por Miguel Sousa Tavares na "E", Revista do jornal Expresso - Edição 2307, de 14 de Janeiro de 2017, pág. 16 - Número Especial inteiramente dedicado à figura de Mário Soares.
Título do artigo: "O Seu Nome, Liberdade".

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Aberturas de Grandes Livros - "PORTUGAL AMORDAÇADO" (Mário Soares)

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“Este livro tem uma história.

Começou a ser escrito em São Tomé, quando me encontrava deportado, sem prévio julgamento e por tempo indefinido, nessa pequena ilha equatorial.

Precisamente, a ideia surgiu-me quando tive conhecimento pela rádio, única fonte das notícias do dia, de que Salazar tinha sido operado a um hematoma craniano.

Nesse momento, compreendi que uma época da história portuguesa tinha terminado. E que era justo – e necessário – fazer o ponto de todo esse tão longo e doloroso período histórico.




Em vida de Salazar, um livro como o meu era, em sentido rigoroso, inconcebível. Esta simples verificação diz muito sobre a dureza dos tempos que nos tem sido dado viver, em Portugal, e explica por que razão este é o primeiro depoimento sobre a era salazarista. Outros se lhe seguirão, espero – enriquecidos com a visão de outros ângulos da realidade e mais bem elaborados.

É importante e urgente que assim aconteça, para que daí resulte um melhor conhecimento do período da história pátria que se encerrou com o desaparecimento de Salazar e que tanto tem pesado sobre nós. É importante, sobretudo, como contributo essencial para a reflexão que colectivamente todos temos de fazer sobre o nosso futuro.


Mário Soares foi Presidente da República de Portugal de 1986 a 1996

Tendo-me colocado numa posição de combate clara e fortemente empenhada, não se pode pretender que o meu depoimento tenha a fria objectividade de um observador exterior aos factos. Não procurei fazer história, nem escrever capítulos esparsos de memórias, com o desprendimento de quem fala de um passado morto e encerrado, ou compõe, à sua maneira, os factos em que participou, para ilustração dos vindouros.

O meu objectivo foi outro: dar singelamente testemunho de um longo combate desigual, a que assisti e em que estive interessado, mas preocupando-me essencialmente com a preparação do futuro.

Entretanto, procurei redigir as páginas que se seguem com escrupulosa verdade (…)”.

Portugal Amordaçado - Mário Soares (1924-2017) - Publicado por Editora Arcádia - Lisboa - Portugal

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quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

RUY MINGAS - calou-se a melhor voz de Angola (ficam as memórias e as gravações...)

 

(1939-2024)


1 - MONAGAMBÉ


2 - MUXIMA


3 - IXI AME (Minha Terra)


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