terça-feira, 17 de agosto de 2021

Cabul, Afeganistão - Talibãs: o triunfante regresso do terror e das trevas...

 



Após um acordo precipitadamente engendrado pelo tolo e incompetente Donald Trump – acordo que Joe Biden não quis, ou não pôde, reverter -, não seria especialmente difícil prever o que acaba de suceder: a entrada vitoriosa na capital afegã – Cabul – dos fanáticos e extremistas bandos talibãs, de péssima e sanguinária memória.

Trump negociou unilateralmente - e estupidamente - com o inimigo, não querendo saber das alianças ocidentais que os Estados Unidos tinham conseguido arregimentar para mais esta aventura bélica, e ainda menos cuidando da trágica situação em que ficam os aliados locais que acreditaram neles e no modelo de vida que lhes foi trazido.

Os Estados Unidos - sobretudo eles - saem desprestigiados, vencidos e humilhados do Afeganistão, reeditando páginas sombrias da sua história, como as que protagonizaram no Vietnam, na Síria ou no Iraque.



Há vinte anos, a invasão do Afeganistão e a consequente expulsão dos talibãs foi levada a cabo após o mortífero atentado de 11 de Setembro de 2001, em New York, e sob pretexto, geralmente tido como credível, de que ali se acoitavam ninhos de terroristas islâmicos dispostos a levar o inferno e as chacinas ao odiado mundo dos “infiéis”. Ali - e nas vizinhanças cúmplices, como o Paquistão, não sendo por acaso que Osama bin Laden foi liquidado pelo comando americano numa localidade paquistanesa.

Vinte anos volvidos, ocorre perguntar o que andaram os Estados Unidos a fazer, mais os seus aliados, durante tão largo período. Gastaram mais de um trilião de dólares (em grande parte desviados para os meandros da corrupção) e acabaram por limitar-se a criar um exército de ficção, de regimentos fantoches (alguns só existentes no papel) incapazes de fazer frente à ameaça. Como se viu nas últimas semanas.


E agora?
O perigo da “exportação” terrorista e dos atentados selváticos no ocidente terá sido eliminado ou, ao menos, decisivamente atenuado? As populações, durante anos aliviadas do jugo da intolerância, serão doravante poupadas a actos de vingança, aos apedrejamentos, ao chicote da religião disciplinadora?
Os ingénuos querem crer que sim, fiados nas promessas mais ou menos vagas dos cabecilhas talibãs ou dos seus porta-vozes de circunstância…

Todavia, uma coisa é o que vem sendo proclamado e prometido - para que a retomada das alavancas do poder decorra com um mínimo de perturbação e obstáculos; e outra, muito diversa, é a que tem sido de facto testemunhada nas localidades em que o poder jihadista se instalou de armas na mão.

Há relatos indesmentíveis de violências físicas, de mulheres expulsas dos seus empregos, de raparigas banidas dos estabelecimentos de ensino que frequentavam. Seria de esperar outra coisa?


Desejando veementemente o oposto, prevemos que o terrorismo internacional não tardará a dar notícias de origem afegã.

E os direitos apesar de tudo reconquistados nas últimas duas décadas pelos cidadãos daquele país vão ser obviamente postos em causa e espezinhados. Sobretudo os das cidadãs: as meninas e as mulheres vão conhecer de perto – ou reencontrar, no caso das mais velhas – o horrendo e odioso fanatismo islâmico, liderado por homens ignorantes e obscurantistas que lidam muito mal com a liberdade e a exuberância física do ser feminino.

Lidam tão mal que, sendo elas, tal como eles, uma criação de Deus (ou de Alá), entendem aqueles imbecis que só escondendo-as em casa, emparedadas em vida, ou amputando-lhes parte do seu corpo, as podem tornar aceitáveis, completas e limpas.
Como se o Deus em que acreditam e invocam, e que veneram como sábio e infalível, se tivesse enganado na Sua obra de criação, lançando ao mundo milhões e milhões de criaturas defeituosas. Metade da Humanidade...

Alguém disse recentemente que os afegãos têm o direito de governar o seu país como melhor entenderem. Ao que um desmancha-prazeres logo ripostou: E as afegãs, não terão esse direito?

Acreditar agora nas promessas dos vitoriosos talibãs faz lembrar aquela fábula do lobo admitido como empregado num curral de ovelhas - para as tosquiar -, depois de o terem feito jurar, a patas juntas, que se tinha tornado num fervoroso e irreversível vegetariano…


As faces inquietantes do novo (ou velho?) poder...


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