"Um ataque
terrorista numa das entradas do aeroporto de Cabul, no Afeganistão, na
quinta-feira, fez pelo menos 108 mortos, entre 95 civis afegãos e 13 militares
dos Estados Unidos. O ataque coordenado envolveu dois bombistas suicidas e
homens armados que dispararam sobre a multidão que tentava fugir do país
através do aeroporto.
O atentado já foi reivindicado pelo ISIS-K, um braço do Estado Islâmico, conhecido por ser o grupo muçulmano mais violento a operar na região, e os Estados Unidos já prometeram retaliar.
Mas que grupo é este e o que
podemos esperar dele?
Este
ramo do Estado Islâmico remonta ao final de 2014, quando o grupo ocupava
grande parte da Síria e do Iraque, e opera como uma filial do grupo
terrorista na região de Khorasan, que engloba o Afeganistão e no Paquistão.
Um
vídeo de 2015, mostra o então líder do grupo, Hafiz Saeed Khan, a jurar
lealdade para com Abu Bakr al-Baghdadi, o líder do Estado Islâmico.
Há muito que os serviços secretos ocidentais sabiam dos planos deste grupo para atacar as forças americanas envolvidas nas operações de evacuação do Afeganistão. Segundo a estação de rádio norte-americana NPR, esse facto terá sido um dos motivos por detrás da insistência do presidente Joe Biden em limitar a duração da retirada das forças norte-americanas no país.
O ISIS-K instalou-se na zona devido à falta de controlo das tropas americanas em território afegão e foram-se infiltrando no território”, explicou à TVI Maria João Tomás, especialista em assuntos do Médio Oriente.
As motivações do grupo terrorista são semelhantes às do Estado Islâmico no Médio Oriente, ou seja, procurar a instauração de um califado islâmico na região.
Com a saída das forças ocidentais do país, o grupo vê agora uma oportunidade de
ocupar o vazio e expandir a sua base de apoio.
Para atingir este objetivo, o grupo recruta jihadistas afegãos e paquistaneses que pertenceram aos talibãs, que acreditam que o grupo terrorista traiu a causa islâmica ao negociar com o Ocidente, ao invés de continuar a jihad.
São talibãs insatisfeitos, que não concordam com este acordo com os Estados Unidos e consideram os talibãs como apóstatas. Há muitos talibãs no ISIS-K, o que traz uma dupla vantagem: não só conhecem as táticas dos talibãs e a forma como estão organizados, mas também conhecem muito bem o Afeganistão”, sublinha a especialista.
O ISIS-K está contra os infiéis. Estão contra aqueles que estão a permitir as negociações com os Estados Unidos. O Estado Islâmico veio à revelia dos talibãs fazer este ataque com dois bombistas suicidas”, explica Filipe Caetano, editor de Internacional da TVI.
Apesar de as forças norte-americanas estimarem que 75% dos membros do ISIS-K foram mortos, o grupo continua a ser um dos principais responsáveis por algumas das piores atrocidades levadas a cabo no país, como ataques a escolas femininas e hospitais.
Em 2019, por exemplo, mataram 63 e feriram 180 com um ataque à
bomba num salão de festas, onde se celebrava um casamento.
Outro dos atos terroristas mais conhecidos do grupo fundamentalista foi um atentado numa maternidade, que matou dezenas de mães e grávidas simplesmente por serem xiitas.
Durante os primeiros quatro meses de 2021, a missão de assistência da ONU no Afeganistão registou 77 ataques levados a cabo pelo grupo.
É um grupo fundamentalista que não tem respeito nenhum pela vida humana. Espera-se o pior daqui para frente”, frisa Maria João Tomás.
Há quem lembre o facto de o Afeganistão ser o maior produtor de ópio do mundo e que poderá tentar apoderar-se de uma parte deste lucrativo negócio que atualmente é controlado pelos talibãs.
O ISIS não é só uma organização terrorista. Como pudemos ver na Síria, o ISIS traficava tudo o que podia. Não nos podemos esquecer que o Afeganistão é o maior produtor de ópio do mundo e não nos podemos esquecer que quem detém esse monopólio são os talibãs”, destaca a analista."
Texto: João
Guerreiro Rodrigues – TVI 24 (Lisboa – Portugal)
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