Carlota Joaquina aos 10 anos, pouco antes de viajar para Portugal. |
Carlota Joaquina, que nasceu em 25 de Abril de 1775, foi filha de Carlos de Espanha e da esposa deste, Luísa de Parma, príncipes das Astúrias.
Quando a casaram com o português D. João (filho da rainha D. Maria I de Portugal e futuro D. João VI) ela contava apenas dez anos de idade. O noivo tinha dezoito.
Nessa altura, o rei de Espanha era ainda Carlos III, avô de Carlota, e diz-se que era ela a sua neta preferida. À morte do soberano (1788), o príncipe das Astúrias subiria ao trono como Carlos IV.
Há testemunhos documentais sobre os derradeiros tempos de Carlota Joaquina em Espanha. Parece incontestável que era dotada de grande inteligência e de personalidade vincada. Aos nove anos saiu-se muito bem nos exames escolares a que foi submetida, durante quatro dias, perante a corte espanhola, revelando, nas respostas, sinais de surpreendente precocidade.
Com insuperável à-vontade, a infanta - que tinha como professor um padre de enorme erudição, Felipe Scio de San Miguel - discorreu sobre matérias tão diversas como religião, gramática, história, geografia e línguas (latim e francês).
No fim das provas houve festa na corte, com jogos variados, fogos-de-artifício e danças de salão. Tudo isto era minuciosamente comunicado à corte portuguesa, aumentando o "valor matrimonial" da infanta espanhola.
Os testemunhos divergem quanto ao aspecto físico de Carlota Joaquina, e nem mesmo os seus muitos retratos são suficientes para uma conclusão definitiva (por vezes parecem representar pessoas diferentes).
Um dos portugueses presentes na corte espanhola, porventura lisonjeador em excesso, fazia dela uma descrição favorável:
Alta, muito bem feita de corpo, as suas feições são perfeitas, dentes muito brancos, e, como há pouco tempo teve bexigas, ainda não se desvaneceram as covas delas, é branca, corada, muito viva e atinada...
Já o embaixador francês em Portugal, marquês de Bombelles, usa de impiedoso humor para descrever Carlota Joaquina, uma menina de apenas dez anos (como de certa forma fará, vinte anos mais tarde, a mulher de Junot, após uma visita a Queluz - rever aqui).
Dizia o francês que os portugueses jamais perdoariam ao seu compatriota, marquês de Louriçal (responsável pelas negociações matrimoniais), o ter arranjado a D. João uma esposa como aquela, parecendo impossível que ela pudesse dar-lhe descendência.
E rematava com um requinte de crueldade, dizendo que um homem precisaria, para consumar aquele casamento ridículo, de ter fé, esperança e caridade: fé, para acreditar que a infanta era uma mulher; esperança, para poder alimentar expectativas de ter filhos dela; e caridade, para se resolver a fazê-los.
O marquês de Bombelles, na sua grosseira deselegância, pode ter tido alguma razão quanto à eventual ausência de atractivos físicos em Carlota Joaquina. Mas estava redondamente enganado quanto à capacidade da pequena espanhola para oferecer filhos ao marido e à nação portuguesa: deu-lhes nove, nem mais nem menos.
Alguns tornar-se-iam monarcas em diversos países. Um deles, Pedro, talvez o mais famoso de todos, viria a dar um grito de liberdade às margens de um riacho (Ipiranga) e tornar-se-ia o primeiro imperador do Brasil...
Fosse como fosse, dissessem os observadores e os diplomatas o que dissessem, os arranjos matrimoniais chegaram a bom porto e Carlota Joaquina, a 11 de Maio de 1785, deixou definitivamente o palácio onde nascera (Aranjuez), pondo-se a caminho de Portugal para se unir ao futuro rei D. João VI.
Acompanhavam-na, para a servirem no novo país, algumas personagens que a conheciam bem: o seu educador desde os 5 anos, padre Felipe de San Miguel; a italiana Anna Michelini, que zelaria pela sua alimentação, higiene e vestuário (e que manteria a mãe de Carlota informada sobre a vida desta em Portugal); e a irlandesa Emília O'Dempsy (camareira e professora de francês).
Palácio de Aranjuez, a meia centena de km de Madrid. Aqui nasceu Carlota Joaquina, em 25 de Abril de 1775. ........... Jean-Baptiste Lully (Le Bourgeois Gentilhomme) (Marche pour la Cérémonie des Turcs) |
(Continua em 14 de Abril de 2021 - aqui)
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