quarta-feira, 21 de abril de 2021

"A Cidade Perdida de Z" - Glória e tragédia do coronel Percy Fawcett na Amazónia brasileira

 


Percy Harrison Fawcett, que nasceu em Torquay, Inglaterra, em 15 de Agosto de 1867, foi um militar, arqueólogo e explorador que desapareceu em 1925, na companhia de um filho e de um amigo deste, na região de Mato Grosso, Brasil.

Na altura, ele procurava aquilo que pensava ter sido uma antiga civilização, entretanto perdida na memória dos tempos. Acreditava que a mesma teria existido na região da Serra do Roncador, em Barra do Garças, naquele estado brasileiro.

A Serra do Roncador deve a designação ao facto de o vento soprar fortemente pelos seus paredões rochosos, produzindo um som grave que pode ser confundido com o de uma pessoa roncando, ou ressonando.

A elevação integra-se na imensa cordilheira de 800 km que se ergue como divisor de águas dos rios Araguaia e Xingu. Estende-se desde o Vale dos Sonhos, no Mato Grosso, até às imediações da Serra do Cachimbo, no estado brasileiro do Pará.


O jovem Percy Fawcett

Optando pela carreira militar, Fawcett deu entrada aos 19 anos na Royal Artillery britânica e, poucos anos depois, iniciava uma vida plena de aventuras e emoções em que alcançou a patente de coronel.

Prestou serviço no Ceilão (Sri Lanka), onde conheceu a esposa, e não tardou a trabalhar como agente secreto na África Meridional, aprendendo técnicas de sobrevivência na selva. Pertenceu aos quadros do MI5, o famoso serviço secreto inglês.

Percy Fawcett foi amigo do escritor Arthur Conan Doyle (o criador de Sherlock Holmes), que mais tarde se basearia nos relatos das suas explorações para escrever a obra Mundo Perdido (Lost World).

Diz-se que a sua vida serviu também de inspiração para as aventuras cinematográficas de Indiana Jones.


Percy Fawcett e seus companheiros na floresta da Amazónia

A primeira expedição de Fawcett, que o marcaria para sempre, aconteceu em 1906 por iniciativa da Royal Geographical Society, de Londres. A sua missão consistiu em mapear a região amazónica situada entre o Brasil e a Bolívia. Atravessando os matos brasileiros, o coronel chegaria a La Paz, capital boliviana, em Junho daquele ano.

Com base na descoberta de alguns fragmentos de cerâmica na região de Mato Grosso, que complementou com a leitura de documentação muito antiga, Percy Fawcett convenceu-se de que ali existira em tempos uma cidade importante, talvez uma grande civilização, a que logo deu o nome de "Z" (A cidade perdida de Z). Essa foi a ideia-fixa que o motivaria e nortearia até ao último dos seus dias.


Acima: dois retratos do explorador.
Em baixo: cena do filme "A Cidade Perdida de Z",
de James Gray (2016), que relata a sua vida aventurosa.




Já casado e com filhos, o explorador (fotos acima) jamais desistiu do sonho. Entre 1906 e 1924 realizou sete expedições, nalgumas das quais correu grandes riscos com os companheiros de aventura, inclusive o da perda de vidas.

Os índios revelavam-se amiúde hostis para com os expedicionários, chegando a atacá-los. Mas Fawcett desenvolveu técnicas de aproximação e de apaziguamento - com generosa oferta de presentes - que por norma permitiam um convívio minimamente pacífico.
Mas, apesar de todos os esforços e de vários indícios encorajadores, a Cidade Perdida de Z continuava fora a vista dos humanos.

A meio desse longo período de buscas, o coronel tivera que retornar à Europa para servir o exército britânico na 1.ª Guerra Mundal. Após o termo do conflito, regressou às suas pesquisas no Brasil.


Cartaz do filme "A Cidade Perdida de Z".
A figura de Percy Fawcett foi interpretada
pelo actor Charlie Hunnam.



Em 1925, andando pelos 58 anos de idade, Percy Fawcett tomou a decisão que viria a revelar-se fatal - a de partir de novo para a região de Mato Grosso, na Amazónia, em busca da mítica cidade de Z.

Ele sabia que a expedição poderia correr riscos, mas era tanta a confiança nas suas capacidades que, dessa vez, fez-se acompanhar de um dos filhos, Jack, e de um amigo deste, Raleigh Rimmell.

Progredindo na região do Alto Xingu (afluente do Amazonas), Fawcett dirigiu à esposa uma derradeira mensagem: informava que, apenas acompanhado do filho e do amigo deste, se preparava para entrar em território até então inexplorado. Depois disso, foi o silêncio absoluto. Percy Fawcett e os seus jovens companheiros tinham sido misteriosamente engolidos  pelo mato brasileiro.

Anos e anos de buscas poucos resultados produziram. No entanto, a maior parte das conjecturas apontava para que os expedicionários tivessem sido assassinados por habitantes da região. Uma história que vários anos depois corria entre os índios Kalapalo - os últimos que disseram ter contactado os expedicionários - parecia confirmar que ocorrera, de facto, um massacre.



Cenas do filme "A Cidade Perdida de Z", que procuraram reconstituir
o derradeiro e fatal encontro dos Fawcett com os índios de Mato Grosso.



Assim, Jack e o seu amigo Raleigh teriam sido abatidos com flechas e deitados ao rio, enquanto Percy Fawcett tombara assassinado com golpes de borduna (moca utilizada como arma pelos índios). Os Kalapalo teriam então sepultado o chefe da expedição numa cova rasa, perto de uma árvore.

Cerca de um quarto de século depois, em 1952, Cláudio e Orlando Villas Bôas seguiram a pista fornecida por essa história.  E a verdade é que, no local indicado pelos Kalapalo, descobriram ossos humanos e alguns objectos de origem europeia (faca, botões e pequenas peças metálicas).

O enigma parecia enfim resolvido. A ossada foi submetida a testes, no Brasil e na Inglaterra, que incluíram exames de DNA. Mas a comparação que provavelmente dissiparia todas as dúvidas não pôde ser efectuada: a família do explorador inglês recusou submeter-se a exames desse tipo. Continuaram por isso de pé, talvez para sempre, a lenda e o mistério de Percy Fawcett e da sua sonhada Cidade de Z...


Orlando Villas Bôas junto da ossada que se presume ser de Percy Fawcett.


1 - Trailer do filme
A Cidade Perdida de Z
(legendado)



2 - Tema principal da banda sonora do filme
A Cidade Perdida de Z 


3 - Extracto da banda sonora do filme
A Cidade Perdida de Z
 (baseado em Daphnis e Chloé, de Ravel)

Amazónia brasileira


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