quarta-feira, 10 de março de 2021

Notas sobre a campanha de Hitler na Rússia (1.ª Parte - O Falhanço de 1941)

 

Tropas alemãs junto a um marco fronteiriço da União Soviética


Ao invadir traiçoeiramente a União Soviética, no dia 22 de Junho de 1941, o ditador alemão, Adolf Hitler, estava convencido de que obteria uma vitória rápida e fácil antes que o Inverno chegasse (rever aqui).

As primeiras semanas do conflito (a Operação Barbarossa) pareceram dar-lhe razão. Colhidas de surpresa, as guarnições fronteiriças não constituíram obstáculo sério e as unidades motorizadas alemãs em breve avançavam a toda a velocidade no interior do território soviético.

Progrediam em três grandes frentes: uma pelo Norte, que desembocaria num cerco a Leninegrado; outra pelo centro, em direcção à capital, Moscovo; e outra pelo Sul, que acabaria visando os poços de petróleo russos, no Cáucaso.

Centenas de milhares de soldados da URSS foram feitos prisioneiros nesses primeiros dias; uma parte considerável da sua Força Aérea foi destruída no solo, sem ter tido oportunidade de levantar voo; e foram capturadas pelos alemães milhares de toneladas de precioso material de guerra.
Tudo parecia perdido para Estaline e para a União Soviética.


Tropas nazis avançam em território soviético, espalhando o terror,
a destruição e a morte.
Na sua peugada vinham unidades especiais (
SS-Einsatzgruppen) com a
missão de exterminarem grupos seleccionados de prisioneiros (judeus,
comissários políticos soviéticos, etc.), num processo que nem sequer
poupou mulheres e crianças. Por seu turno, grande parte dos soldados
russos capturados morreriam de fome durante o cativeiro.

Os cálculos de Hitler saíram quase todos falhados.
Como ficaria demonstrado, ele subestimou várias coisas, a começar pela capacidade militar do inimigo soviético.

Para além do auxílio em equipamentos que receberia das potências ocidentais, a URSS revelaria uma insuspeitada capacidade de produção de material de guerra (Estaline ordenara a transferência das principais unidades industriais, praticamente intactas, para o interior profundo do território, colocando-as a salvo dos invasores e conseguindo mantê-las em laboração contínua).

A segunda coisa que Hitler subestimou foi o perigo do Inverno russo, que já havia liquidado, no século anterior, as pretensões de Napoleão Bonaparte. Apostando tudo numa campanha célere e curta, ele não se lembrara de mandar reservar equipamentos e vestuários de Inverno para as suas forças, o que viria a ter consequências fatais para os invasores.

Por fim, Hitler desprezou sistematicamente os conselhos dos seus generais, pouco convencidos da debilidade russa. Com a típica autoconfiança dos diletantes, ele impôs inúmeras vezes os seus pontos de vista "militares" aos profissionais da guerra que o rodeavam. Pagá-lo-ia caro.


As chuvas iniciais foram o primeiro obstáculo sério para os invasores. Homens e animais atascavam-se em espessos lamaçais, tal como aconteceria com tanques, camiões e veículos de transporte. Depois viriam a neve e o gelo, que marcariam o princípio do fim para Hitler.



Com a viragem do tempo, ainda no Outono, a progressão dos exércitos alemães tornou-se muito mais lenta. As primeiras chuvas transformaram o solo poeirento numa pasta lamacenta e pegajosa, que atrasou irremediavelmente alguns movimentos vitais.

A neve e o gelo, que chegaram logo a seguir, tornaram insuportável para muitos soldados alemães, metidos no seus trajes de Verão, aquele Inverno especialmente frio. E os contra-ataques dos russos, agasalhados e conhecedores do terreno, tornaram-se mais frequentes, dizimando e desmoralizando as unidades nazis mais expostas.

Hitler apostou então em apoderar-se de Moscovo, que chegou a estar à vista das suas tropas mais avançadas. Mas um fortíssimo contra-ataque russo, em que participaram reforços vindos do interior siberiano, destroçou quaisquer esperanças alemãs de uma conquista da capital. As forças nazis iniciaram então uma retirada que se revelaria desastrosa para a sua campanha.

Aviões soviéticos sobrevoam as tropas alemãs nas imediações de Moscovo.
O falhanço da conquista da capital constituiria o primeiro grande desaire militar de Adolf Hitler.

O Inverno de 1941/42 foi terrível para os invasores alemães. Mal abrigados e mal vestidos, muitos deles sofreram lacerações gravíssimas provocadas pelo frio.

Os equipamentos mecânicos congelavam, pura e simplesmente. Alguns veículos só podiam ser postos a funcionar quando se armavam grandes fogueiras por baixo deles ou nas suas proximidades.

O recuo alemão, frequentemente desordenado, ocasionou a perda de milhares de toneladas de material de guerra - camiões  de transporte, tanques e canhões.

As frentes alemãs só foram estabilizadas na Primavera de 1942. Embora as perdas em vidas e materiais fossem enormes, Hitler voltou a acalentar esperanças de que uma nova campanha de Verão poderia virar a seu favor os astros da guerra.

Não lhe passava pela cabeça que 1942 lhe pudesse trazer o segundo e decisivo desastre militar da sua carreira.
Seria o ano memorável de Estalinegrado e, entre muitos outros heróis, o ano de Vassili Zaitsev.

Efeitos do Inverno russo...

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Conclui no próximo sábado (13-Março-2021) - aqui

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