sábado, 17 de outubro de 2020

O assassínio da família imperial da Rússia pelos bolcheviques de Lenine (17 de Julho de 1918) - 6.ª Parte

De pé: Nicolau II, Alexei, Tatiana, Maria e Anastasia.
Sentadas: Olga e a czarina Alexandra.


Quando, a seguir ao assassínio cometido na “Casa Ipatiev”, os bolcheviques de Lenine arrastaram os onze cadáveres até aos arredores de Ecaterimburgo e os soterraram em duas valas separadas, um deles terá proclamado, com arrogante convicção, que jamais se poderia descobrir o que eles tinham feito e, muito menos, identificar as vítimas.

Com efeito, os assassinos utilizaram o fogo, o ácido e, por fim, antes do derradeiro sepultamento, os instrumentos que tinham à mão para fragmentar ao máximo as ossadas dos sete membros da família imperial e dos seus quatro infortunados servidores.


Local da exumação dos restos mortais das vítimas.

O assassino estava, obviamente, errado, pois não poderia ter previsto a evolução da política russa nem os extraordinários avanços da Ciência.

A descoberta dos despojos terá ocorrido no final da década de 1970, mas o segredo foi mantido até ao colapso da União Soviética e do império comunista.

Em 1991, na primeira vala descoberta, foram exumados os restos mortais de Nicolau, da czarina Alexandra, de três das suas filhas (Olga, Tatiana e Anastasia) e dos quatro servidores.

Os restos do pequeno Alexei e da sua irmã Maria, que, numa tentativa de despiste, haviam sido lançados para uma vala afastada da primeira, apenas vieram à luz do dia no ano de 2007.


O mesmo local da exumação.

Sucessivos testes de DNA realizados quer na Rússia quer no estrangeiro, permitiram confirmar, sem a menor dúvida, que os despojos pertenciam, de facto, às onze pessoas abatidas na cave da “Casa Ipatiev”.

A determinação da idade das ossadas possibilitou a identificação individual das mesmas.

A reabilitação da memória das vítimas e a condenação - pelo menos sob o ponto de vista moral - dos seus impiedosos assassinos, foi acontecendo a vários níveis, designadamente o religioso e o político.


Ícone dos Romanov canonizados.

A Igreja Ortodoxa Russa no Exterior procedeu à canonização das vítimas como neo-mártires.

Mais tarde, já no ano 2000, a Igreja Ortodoxa Russa anunciou a canonização dos Romanov - não como mártires, mas como Portadores da Paixão, pela humildade, paciência e mansidão com que eles haviam suportado a agonia dos dezasseis meses de provações e agonia nas mãos dos seus carrascos – uma resignação que a Igreja achou que fazia lembrar a de Jesus Cristo no Calvário.


Demolição da "Casa Ipatiev," em Ecaterimburgo.

Entretanto, a infame “Casa Ipatiev”, onde ocorrera o crime, foi demolida e em seu lugar ergueu-se um magnífico templo em homenagem à memória das vítimas daquela noite terrível - a Igreja do Sangue.


Igreja do Sangue, que tomou o lugar da "Casa Ipatiev".


Em Outubro de 2008, a Suprema Corte da Rússia declarou que Nicolau II e a sua família haviam sido vítimas de uma cruel repressão política e reabilitou-os. 

Antes disso, em 17 de Julho de 1998 (quando se completavam oitenta anos sobre o dia do assassínio) os cinco membros da família já exumados e os quatro servidores foram trazidos para São Petersburgo e sepultados, com guarda de honra, na Catedral de São Pedro e São Paulo.

Nicolau II e os seus ficaram enfim a repousar junto dos outros czares da Rússia ali sepultados.


Funeral com guarda de honra, em São Petersburgo.



Cerimónias fúnebres, vendo-se o Presidente Bóris Yeltsin (sentado).


O Presidente da Rússia, Bóris Yeltsin, esteve presente nas cerimónias fúnebres e proferiu o discurso que parcialmente se transcreve:


"Caros concidadãos:


Hoje é um dia histórico para a Rússia.

Passaram-se oitenta anos desde o assassinato do último imperador russo e da sua família. Estamos há muito tempo em silêncio sobre esse crime monstruoso.

Devemos dizer a verdade.

O massacre de Ecaterimburgo constituiu uma das páginas mais vergonhosas da nossa história.

Ao enterrar os restos de inocentes, queremos expiar os pecados dos nossos antepassados.

Culpados são aqueles que cometeram este crime hediondo, e também aqueles que o justificaram ao longo das décadas, todos nós.

Não devemos mentir a nós mesmos, justificando essa crueldade sem sentido com objectivos políticos.

A execução da família Romanov foi o resultado de uma divisão irreconciliável na sociedade russa.

Os resultados são sentidos até hoje.

O enterro das vítimas de Ecaterimburgo é, antes de tudo, um acto de justiça humana. É um símbolo da unidade da nação, uma expiação da culpa comum (…).

Vídeo (parcial) das cerimónias fúnebres dos Romanov

(17 de Julho de 1998):

(Continua em 19 de Outubro de 2020)

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