quinta-feira, 23 de abril de 2020

XERAZADE (Rimsky-Korsakov)


Xerazade (ou Sherazade; ou, ainda, Sheherazade) foi a lendária rainha persa que narrou os famosos contos de As Mil e uma Noites.
Segundo a lenda, com a sua beleza e inteligência ela fascinou o rei Shariar ao contar-lhe histórias fantásticas durante mil e uma noites. Salvou, assim, a sua vida e ganhou o amor eterno do marido.


I - As Mil e Uma Noites

Segundo a lenda, na antiga Pérsia, o rei Shariar descobriu que a esposa o traía com um dos servos do palácio. Enfurecido, o monarca mandou matar os dois e tomou uma terrível decisão: casar-se-ia todas as noites com uma nova mulher e, na manhã seguinte, para não ser traído por ela, ordenaria a sua execução. E assim sucedeu por três anos, causando medo e lamentações em todo o reino.

Um dia, a filha mais velha do primeiro-ministro, a bela e astuta Xerazade, disse ao pai que tinha um plano para pôr fim àquela barbaridade. Porém, para ter êxito, precisava de casar-se com o rei. O pai tentou fazê-la desistir de tão perigosa ideia, mas Xerazade estava determinada a acabar de vez com a maldição que aterrorizava o reino. E assim aconteceu: Xerazade casou-se com o rei.

Terminada a cerimónia nupcial, o marido levou a esposa aos seus aposentos; entretanto, antes de fechar a porta, ouviu-se um choro ruidoso.
- Oh, Majestade, deve ser a minha irmãzinha, Duniazade - explicou a noiva. Ela chora porque quer que eu lhe conte uma história, como faço todas as noites. Já que amanhã estarei morta, peço-te, por favor, que a deixes entrar para que eu a entretenha pela última vez!

Sem esperar resposta, Xerazade abriu a porta, levou a irmã para dentro, instalou-a no tapete e começou:
- Era uma vez um mágico muito malvado…
Furioso, Shariar procurou impedir a continuação da história. Resmungou, reclamou, tossiu, mas as duas irmãs ignoraram-no. Vendo que a birra de nada adiantava, o rei sossegou e pôs-se a ouvir o relato da jovem. Meio distraído no início, não tardou contudo a interessar-se pela narrativa.

A pequena Duniazade adormeceu, embalada pela voz suave da rainha. O soberano permaneceu atento, visualizando na mente as cenas de aventura e romance descritas pela esposa.
Repentinamente, no momento mais empolgante da história, Xerazade calou-se.
- Continua! - ordenou Shariar.
Mas o dia está amanhecendo, Majestade! Já ouço o carrasco afiando a espada!
- Ele que espere - declarou o rei.

Shariar deitou-se, por fim, e dormiu profundamente. Despertou ao anoitecer e ordenou à esposa que concluísse a história. Ela assim fez, mas ele não se deu por satisfeito:
- Conta-me outra!
Xerazade, com a sua voz melodiosa, começou a narrar histórias de aventuras de reis, de viagens fantásticas, de heróis e de mistérios. Contava uma história após outra, deixando o rei maravilhado.



Sem que Shariar desse por isso, as horas passaram e o sol nasceu. Xerazade interrompeu a narrativa na melhor parte e disse:
- Já é de manhã, meu senhor!
O rei, muito interessado na história, deixou Xerazade no palácio por uma noite mais. E assim a rainha fez o mesmo naquela noite: contou mais histórias e deixou a última por terminar.

Ora contava um drama, ora contava uma aventura, às vezes um enigma, em outras uma história real. E assim decorreram dias, semanas, meses e anos. E coisas estranhas aconteceram. Xerazade engordou e, passado algum tempo, recuperou o corpo esguio. Por duas vezes desapareceu durante várias noites e retornou sem dar explicação, e o rei nunca lhe perguntou nada.

Certa manhã ela terminou uma história ao nascer do sol e disse:
Agora não tenho mais nada para te contar. Percebeste que estamos casados há exactamente mil e uma noites?
Escutou-se então um som no exterior, e, após breve pausa, ela disse:
- Estão batendo à porta! Deve ser o carrasco. Podes finalmente mandar-me para a morte!.
Todavia, quem penetrou nos aposentos reais não foi o carrasco, mas sim Duniazade, a irmã de Xerazade, que com o passar dos anos se transformara numa linda jovem. Trazia dois gémeos nos braços e era seguida por um bebé que gatinhava.
- Meu amado esposo, antes de ordenares a minha execução, precisas de conhecer os meus filhos. Aliás, os nossos filhos. Pois desde que nos casámos eu dei-te três varões. Mas tu estavas tão encantado com as minhas histórias que nem deste por nada...

Só então Shariar constatou que a sua amargura desaparecera. Olhando para as crianças, sentiu o amor inundar-lhe o coração como um raio de luz. E, contemplando a esposa, descobriu que jamais poderia matá-la, pois não conseguiria viver sem ela.

Assim, escreveu ao seu irmão propondo-lhe que se casasse com Duniazade. Houve uma dupla cerimónia, pois Shariar desposou Xerazade pela segunda vez, e os dois reinaram felizes até ao fim de seus dias. [Adaptado da Wikipédia]


II - Xerazade (Rimsky-Korsakov)

Baseando-se nas histórias de As Mil e Uma Noites, o músico Nikolai Rimsky-Korsakov (que já ouvimos aqui) compôs em 1888 a suite sinfónica Xerazade (Scheherazade; Scherazade), op. 35, considerada ainda hoje a sua criação mais popular.

Apresento abaixo a melhor interpretação que conheço desta obra.
Deve-se à Orquestra Sinfónica da Galiza (Orquesta Sinfónica de Galicia), dirigida pelo maestro finlandês Leif Segerstam.
A gravação foi efectuada no Palácio da Ópera de A Coruña em 15 de Maio de 2015.

A suite divide-se nas seguintes partes (indicando-se, a vermelho, os tempos do vídeo em que começa cada uma delas):

I - Introdução. O mar e o navio de Simbad (00.05)
II - A história do príncipe Kalender (12.03)
III - O jovem príncipe e a jovem princesa (25.10)
IV - Festa em Bagdad - Naufrágio do barco de Simbad nas rochas (37.18)
  

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