terça-feira, 21 de abril de 2020

Donald Trump - "o Homem Mais Perigoso do Planeta"...




Não há ninguém dotado de um mínimo de isenção e clarividência que não veja como este homem mente, omite, baralha, esconde, difama, inventa, calunia e ofende sem que um músculo se lhe altere na face congestionada, soberba e antipática. Ele escapa-se das responsabilidades como o diabo da água benta, de uma forma e com uma ligeireza que nem o mais refinado dos burlões de feira conseguiria imitar…

Culpados das culpas dele são sempre os outros - uns "outros" permanentemente difusos e movediços, que ele vai nomeando e desnomeando ao sabor das circunstâncias políticas e dos seus interesses pessoais.
Agora, nos tempos sombrios e letais do covid-19, obviamente desorientado pelos falhanços monumentais em que incorreu desde o início da crise, ele furta-se uma vez mais ao reconhecimento de culpas e ao acto de contricção com que qualquer homem digno já teria avançado.

Homem digno e honrado é o que ele não é nem nunca será. Por isso mente - como é seu hábito e seu vício. Diz que não foi avisado a tempo. Que foi apanhado de surpresa. Que outros falharam primeiro, levando-o ao engano… Foram os Chineses, disse ele. Depois foi isto, e a seguir foi mais aquilo. Por fim foi a Organização Mundial de Saúde (OMS), a quem decidiu cortar, por castigo, o financiamento dos EUA.

Trump está, novamente, a mentir e a vigarizar - é um autêntico Donald das Petas. Consultem os jornais e as gravações televisivas de há uns meses, quando já toda a gente sabia do que se passava na China e dos perigos que isso acarretava para os Estados Unidos e para o resto do Mundo.

Nessa altura, que foi que fez o insigne Donald com as notícias que lhe chegavam? O que é que brotou do seu poderoso cérebro, de dois neurónios e meio doentiamente iluminados? Nem mais nem menos de que tudo aquilo não passava de uma invenção dos jornalistas - os jornalistas criavam fake news (a expressão foi dele) para o prejudicar…

Os Jornalistas (!). Foram portanto esses os primeiros culpados que ele escolheu para encabeçarem uma lista de "réus" que não tem parado de aumentar. São os bodes expiatórios de que necessita para camuflar a incomensurável incompetência e a completa ausência de escrúpulos que o caracterizam.

O que mais me espanta em tudo isto já nem é a gélida tranquilidade - e a infinita "lata" - com que este figurão atenta contra os factos e a verdade. O que mais me admira - e estarrece - é a pasmosa credulidade e a entusiástica carneirice com que muitos dos seus concidadãos se deixam manipular e conduzir por ele, ao ponto de parecerem dispostos a recolocá-lo, em próximas eleições, no lugar que foi de Lincoln.
Pobre América!


A propósito do nefando golpe com que Trump resolveu agredir a Organização Mundial de Saúde (OMS), cortando-lhe o financiamento americano (gesto já caracterizado, muito justamente, como um crime contra a Humanidade), o jornalista Miguel Sousa Tavares publicou na sua crónica semanal do "Expresso" (*) as linhas que, com aplauso e a devida vénia, a seguir transcrevo:

"(…) Agora, a meio de uma crise de saúde planetária de uma dimensão jamais vista, cortar o grosso do financiamento da OMS quando ele é mais necessário do que nunca, é coisa que só podia ser levada a cabo por um tipo tresloucado, cruel e obcecado com a sua reeleição, antes de tudo o mais.

Numa longa e terrível reportagem em dois hospitais do Bronx, esta semana, "The New York Times" recolheu o depoimento de médicos dizendo o que toda a gente teve ocasião de perceber por si mesma: que as semanas que Donald Trump levou a não querer aceitar a gravidade do coronavírus custaram milhares de mortos americanos.

E é por isso, e também por não conseguir explicar como é que o país mais rico do mundo foi apanhado completamente desarmado em termos clínicos para esta crise, que ele procura todos os dias um novo culpado que possa desviar as atenções de si próprio.
Este é o homem mais perigoso do planeta e está à frente da nação mais poderosa do planeta (…)."

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(*) - Jornal "Expresso" de 18 de Abril de 2020. Primeiro Caderno, pág. 11. A crónica completa tem, como título, Entre Ruínas e Morte.

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