Em Junho de 1812, Napoleão invadiu a Rússia com o seu Grande Exército (mais de meio milhão de soldados).
Seria uma campanha trágica para ele, e ficaria assinalando o início da curva descendente de uma invulgar carreira política e militar.
Após sucessivas retiradas do exército russo, acompanhadas de uma prática de terra queimada diante do avanço dos franceses, os dois exércitos encontraram-se em Borodino, uma pequena aldeia a pouco mais de 100 quilómetros de Moscovo.
As tropas do czar da Rússia, Alexandre I, eram comandadas pelo astuto general Mikhail Kutuzov.
A batalha ocorreu no dia 7 de Setembro de 1812.
O número de baixas, ainda hoje muito discutido, foi, em qualquer hipótese, elevadíssimo.
Uma estimativa relativamente credível aponta para cerca de 30.000 mortos franceses (em 120.000 homens empenhados nos combates), contra 60.000 baixas russas (em 150.000 combatentes).
Batalha de Borodino |
O triunfo na batalha tem sido atribuído aos franceses. Mas tratou-se de uma vitória de Pirro, pois as forças de Kutuzov conseguiram retirar-se em boa ordem e o (relativo) êxito de pouco aproveitou aos invasores.
Napoleão entrava pouco depois em Moscovo, encontrando a cidade devorada por incêndios e deserta de população e de governantes.
Em vão esperou o imperador francês pela rendição do czar da Rússia.
Pelo contrário, o inverno forçá-lo-ia a uma retirada dramática, em que o gelo, o frio, a fome e as constantes flagelações dos russos lhe dizimaram praticamente o que restava do Grande Exército.
Em Dezembro de 1812, a Rússia ficou livre do invasor.
Napoleão - Retirada da Rússia |
Foi esse triunfo histórico que o compositor Tchaikovsky (1840-1893) quis celebrar com o seu "1812".
Esta famosa Abertura Solene pode ser encarada como uma representação musical da campanha napoleónica na Rússia.
O hino religioso inicial evoca as orações do povo russo nas igrejas, implorando a intervenção divina contra o invasor.
As notas seguintes expressam a iminência dos combates e a preparação para a batalha, numa combinação de desespero e de transbordante entusiasmo, sublinhada pelos acordes distantes da Marselhesa, que evocam o avanço francês (ouvir, abaixo, por exemplo, a partir de 4' 30'' e 12' 10'').
A Marselhesa impõe-se em Borodino, ao passo que, mais adiante, se torna preponderante a música tradicional russa.
No momento da tomada de Moscovo, quando tudo parece perdido, o hino religioso é outra vez escutado, significando a intervenção divina (que traz um inverno rigoroso para o qual os franceses não se achavam preparados).
No final, apoteótico, disparam-se canhões em sinal de triunfo, enquanto repicam os sinos das igrejas de uma Rússia enfim libertada.
Chamo a vossa atenção para a força vibrante e telúrica desses derradeiros acordes (a partir de 13' 42'').
Para ouvir este genial "1812" escolhemos uma magnífica interpretação da Orquestra Sinfónica de Gothenburg (Suécia) dirigida pelo maestro Neeme Järvi:
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