sábado, 7 de dezembro de 2019

O drama dos índios norte-americanos: de Sitting Bull ao massacre de Wounded Knee (4.ª e última parte)

Chefe sioux Big Foot, também conhecido por Spotted Elk
(Retrato póstumo, da autoria de Joseph H. Sharp)

O assassínio de Sitting Bull lançou o pânico entre as comunidades índias da Grande Reserva. Muitas delas puseram-se em movimento, errando de agência em agência para se esquivarem às tropas americanas. Estas movimentavam-se diligentemente pelo território, procurando outros líderes sioux acusados de "fomentar" a Dança dos Fantasmas. Um deles era Big Foot, também conhecido por Spotted Elk.

Quando Sitting Bull foi morto, Big Foot contava cerca de 64 anos de idade. Assim que soube do assassínio, colocou-se à frente do seu povo (120 homens e 230 mulheres e crianças) e marchou, através das terras cobertas de gelo, em direcção à agência de Pine Ridge. Pelo caminho contraiu pneumonia, pelo que teve de ser transportado num carroção. A 28 de Dezembro, nas cercanias de Porcupine Creek, avistaram-se soldados americanos. Big Foot ordenou logo que se içasse uma bandeira branca e, pouco depois, foi abordado pelo major Samuel Whitside, do 7.º Regimento de Cavalaria dos Estados Unidos. O major comunicou a Big Foot - que, alquebrado pela doença, sangrava abundantemente da boca e do nariz - ter recebido ordens para conduzi-lo, com a sua gente, a um acampamento de tropas americanas instalado perto do riacho de Wounded Knee. E assim se fez.

Em Wounded Knee, os índios foram contados e alojados em tendas do Exército, vigiadas por sentinelas prontas a impedir qualquer tentativa de evasão. Num morro próximo, com idêntica finalidade, postaram-se canhões Hotchkiss, capazes de atirar cargas explosivas a mais de 3 quilómetros de distância.
Deu nessa altura entrada no acampamento outra força, também pertencente ao 7.º de Cavalaria, que vinha comandada pelo coronel James W. Forsyth. Este assumiu o comando das operações e informou o major Whitside que tinha sido incumbido de levar Big Foot e o seu povo até ao caminho-de-ferro. Seguiriam então de comboio para uma prisão militar em Omaha.

 
Black Coyote

Na manhã do dia seguinte (29 de Dezembro de 1890), o coronel Forsyth  determinou que os sioux fossem reunidos no campo gelado, cercados por soldados a cavalo e intimados a entregar as armas que possuíssem. Eles obedeceram, empilhando no gelo as suas poucas espingardas. Mas o coronel não ficou satisfeito com tão escassa colheita. As tendas foram então invadidas pelos militares, que arrastaram para fora as trouxas que continham os pertences dos índios. Rasgaram-nas para procurar armas, mas só acharam facas, machados, estacas de tendas e utensílios domésticos.
Sempre descontente, Forsyth mandou que os índios se desfizessem das mantas que os protegiam do frio para serem revistados. Apareceram então - e apenas - duas espingardas. Uma delas era a Winchester nova de Black Coyote. 
Segundo vários testemunhos, Black Coyote era um jovem surdo e perturbado, que, no entanto, quando se viu agarrado e empurrado pelos soldados, não apontou a Winchester a ninguém. Tudo o que fez foi gritar que a espingarda lhe custara muito dinheiro e que, portanto, lhe pertencia. Mas, quando parecia disposto a juntá-la à pilha já formada, alguns soldados tentaram apoderar-se da arma fazendo Black Coyote rodar sobre si próprio. Escutou-se então uma detonação, possivelmente acidental, mas foi o bastante para que a cavalaria desatasse a disparar indiscriminadamente sobre a multidão de prisioneiros.

Desarmados, os índios - homens, mulheres e crianças - tentaram fugir do local para escapar à matança. Todavia, às descargas da cavalaria somaram-se os disparos dos canhões Hotchkiss a partir do morro fronteiro. Alguns dos sioux, no seu desespero, envolveram-se em lutas com os soldados que os perseguiam. Uma das sobreviventes do massacre contaria mais tarde: Tentámos correr, mas eles alvejavam-nos como se fôssemos búfalos. Sei que há alguns brancos bons, mas os soldados deviam ser maus, para disparar contra mulheres e crianças. Índios não fariam isso a crianças brancas.
Outra mulher, uma jovem, testemunharia: Desatei a correr, seguindo os que fugiam. O meu avô e a minha avó, além do meu irmão, foram mortos quando cruzávamos a ravina. Fui atingida em cheio no quadril e no pulso direito. Não pude continuar, pois não conseguia andar. Então, os soldados agarraram-me.

 
Corpos de índios no gelo, após o massacre de Wounded Knee

Quando a loucura homicida terminou, o chefe Big Foot estava morto, e, com ele, quase todo o seu povo.
Havia, apenas, 51 sobreviventes (dos 120 homens, sobraram 4; das 230 mulheres e crianças, salvaram-se 47).
A tropa americana registou 25 mortos e 39 feridos. Segundo os relatórios militares, a maior parte destas vítimas fora atingida pelas próprias balas dos seus camaradas ou pelos estilhaços das descargas dos canhões - aquilo que seria posteriormente designado como "fogo amigo".
De qualquer modo, no entender de um elevado número de americanos, a matança de Wounded Knee, perpetrada pelo 7.º Regimento de Cavalaria (a unidade a que pertencera o falecido George Custer), não foi mais do que uma vingança razoável pelo que tinha acontecido, 14 anos antes, em Little Bighorn

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FIM DA 4.ª e ÚLTIMA PARTE

1.ª Parte - ver aqui
 2.ª Parte - ver aqui
 3.ª Parte - ver aqui 

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