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Luciana Rabello nasceu em Petrópolis, Brasil, no ano de 1961.
Pertence a uma família proveniente do Nordeste Brasileiro, onde – como ela própria explica – se mistura o sangue de portugueses, espanhóis, holandeses, alemães, negros e índios.
Luciana, como vão poder confirmar daqui a pouco, é uma extraordinária cavaquinista (tocadora de cavaquinho), embora se tenha iniciado, ainda criança, pelo violão, e tenha estudado também piano clássico durante cinco anos.
É, igualmente, compositora.
O avô materno, José de Queiroz Baptista, foi o seu primeiro e único professor. Começou a tocar aos 6 anos e, aos 13, já compunha.
Em 1975 integrou, com o irmão Raphael Rabello, o grupo “Os Carioquinhas”, especializado em choro (ou chorinho), uma das mais famosas e características expressões musicais do Brasil.
Começava assim, aos 14 anos, a carreira magnífica de Luciana Rabello, numa época em que, como ela diz, para muita gente “o choro era coisa de velho…”.
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Primeira mulher a tocar cavaquinho profissionalmente, Luciana estreou-se em disco aos 16 anos.
No início da década de 1980 viajou pela Europa, actuando como solista de choro em espectáculos de Toquinho (que tocava violão).
No início da década de 1980 viajou pela Europa, actuando como solista de choro em espectáculos de Toquinho (que tocava violão).
A partir de então, tornou-se na cavaquinista preferida de vários maestros brasileiros de 1.ª linha.
Em 1999 fundou, com Maurício Carrilho, a Acari Records, que administra desde o ano de 2000. Trata-se da primeira gravadora a dedicar-se, exclusivamente, ao choro. Tem hoje muitas dezenas de títulos no seu catálogo.
Os filhos de Luciana Rabello, Ana e Julião, são também músicos reconhecidos. Diz-se, e é verdade, que eles “estão seguindo as pisadas de mamãe…”.
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O choro, cujos executantes são chamados de chorões, é um género musical com cerca de 140 anos de existência. Mas há quem diga que as suas origens remotas se acham no ano de 1808, quando a Família Real portuguesa chegou ao Brasil refugiada da ameaça militar napoleónica que alastrava na Europa.
Com a corte lusitana foram para o Brasil instrumentos como o piano, o clarinete, o violão, o saxofone, o bandolim e o cavaquinho, bem como danças de salão europeias (valsa, mazurca, quadrilha, modinha, xote e, principalmente, a polca).
Os novos instrumentos, as novas músicas e a reforma urbana entretanto operada criaram o caldo de cultura que levaria ao surgimento do choro.
Surgiu um novo estrato social, a classe média (funcionários públicos, instrumentistas de bandas militares e pequenos comerciantes).
Algumas dessas pessoas passaram a formar conjuntos para tocar “de ouvido” aquelas músicas, combinando-as com os ritmos africanos já enraizados na cultura brasileira.
E, assim, nos quintais dos subúrbios do Rio de Janeiro se foi impondo a primeira música urbana tipicamente brasileira: o choro.
O choro resultou, portanto, da criatividade com que os músicos populares executavam, ao seu jeito, a música importada que se ouvia nos salões e bailes da alta sociedade por meados do século XIX.
O choro resultou, portanto, da criatividade com que os músicos populares executavam, ao seu jeito, a música importada que se ouvia nos salões e bailes da alta sociedade por meados do século XIX.
A música dos chorões, porém, evoluiu - e em breve se distinguia bastante da que se tocava nos salões da nobreza carioca.
flauta - cavaquinho - pandeiro.
.Esta designação (choro) deve-se ao carácter plangente, choroso, da música que esses pequenos conjuntos faziam.
As primeiras combinações instrumentais giravam em torno de um trio constituído por flauta (para os solos), o violão (acompanhamento, como se fosse um contrabaixo) e, claro, o cavaquinho, que fazia um acompanhamento mais harmónico, rico de acordes e variações.
Os primeiros chorões, improvisadores por definição, não tinham regras fixas para o número de executantes ou para os instrumentos musicais admitidos. Por isso, o leque se foi alargando com a passagem do tempo (como pode ver acima).
O choro exige do músico um completo domínio do instrumento e uma percepção apuradíssima dos códigos e senhas que se encaixam em gigantescos improvisos.
Ainda hoje, o bom músico de choro tem como condição básica ser também um bom improvisador.
No princípio da década de 1980, como se disse, Luciana Rabello, então com pouco mais de 20 anos, actuou como solista de choro nos espectáculos de Toquinho.
É de um desses espectáculos a peça que seguidamente vos apresento.
Trata-se de uma famosa composição ("Brasileirinho") de Waldir Azevedo, um popularíssimo artista de choro e, também ele, um virtuoso do cavaquinho.
Trata-se de uma famosa composição ("Brasileirinho") de Waldir Azevedo, um popularíssimo artista de choro e, também ele, um virtuoso do cavaquinho.
Os Brasileiros, como sabemos, transformaram e enriqueceram a língua portuguesa: pronunciam-na com todas as sílabas e embeberam-na numa mistura fina de açúcar e canela.
Ora, nesta espantosa interpretação, Luciana mostra o que os Brasileiros fizeram do cavaquinho português: afinaram-no ao seu jeito e deram-lhe o perfume inebriante da sonoridade tropical.
Quanto a Luciana Rabello, a gente não sabe bem o que mais admirar nesta intervenção.
A fantástica demonstração de talento?
A imperturbável serenidade da execução?
A beleza invulgar da artista?
Pensando bem, creio que anda tudo pelo mesmo - elevadíssimo - nível.
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Para os amigos brasileiros que tiverem curiosidade em saber como soava (e soa) o velho cavaquinho português - que deu origem ao vosso cavaquinho dos chorões -, deixo uma interpretação dos "Cavaquinhos do Paranho" (Trofa - Portugal).
Trata-se de um Malhão Minhoto, a música alegre e comunicativa de muitas festas e romarias do Norte Português:
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Pôxa, Cavaleiro, você se encantou mesmo com nossa Luciana, verdade?...
ResponderEliminarVerdade, cara Pernambucana. Mas Luciana Rabello merece amplamente que nos encantemos com ela e com o seu virtuosismo. E, também, com os seus importantes empreendimentos de divulgação da cultura musical brasileira - você não acha? Compreende-se que os Brasileiros se orgulhem do facto de Luciana ter nascido nesse país. Mas quando o talento e o mérito se elevam a tais patamares de excepção, o artista deixa de ser um exclusivo de sua terra-mãe para se tornar em verdadeiro património universal. Para fruição e felicidade de todos nós... Insisto: você não acha?
ResponderEliminarÉ claro que eu acho, Cavaleiro da Torre, Luciana é merecedora de todas as homenagens! A propósito, amei também seus músicos de Paranho. Um abraço para você, a quem parabenizo por este sítio.
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