“Serei o herói da minha própria existência ou este papel terá sido desempenhado por outro? Estas páginas o dirão. Para começar a minha vida pelo princípio, registo que nasci (pelo menos assim mo asseveraram e estou disso persuadido) numa sexta-feira à meia-noite. Notou-se que o relógio principiara a dar horas e eu começara a chorar ao mesmo tempo.
Devido ao dia e à hora do meu nascimento, declarou a parteira, bem como várias matronas da vizinhança, que manifestaram vivo interesse por mim antes da data em que o nosso conhecimento se pudesse realizar, primeiro: que eu me destinava a não ter sorte na vida;
segundo, que gozaria do privilégio de ver espíritos e fantasmas.
Estes dons pertenciam inevitavelmente – assim o acreditavam, pelo menos – às pobres crianças, de um ou outro sexo, nascidas às primeiras horas da madrugada de sexta-feira. (…)
(…) Nasci em Blunderstone, no Suffolk, ou “algures”, como se diz na Escócia.
Sou um filho póstumo. Os olhos de meu pai tinham-se fechado para a luz do dia seis meses antes de os meus se abrirem.
Ainda hoje há para mim qualquer coisa de estranho nesta ideia de ele nunca me ter visto, qualquer coisa de ainda mais estranho na mistura das minhas recordações de infância com a pedra branca do seu túmulo no cemitério vizinho, e a compaixão inexprimida que eu sentia, ao pensar que ele estava ali, na noite escura, enquanto a nossa pequena sala de estar, tépida e clara, lhe fechava as suas portas – não sem crueldade, pensava eu (…).”
Este foi um outro livro que li num tempo já tão distante!
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