sexta-feira, 30 de outubro de 2020

"Ao Amor Antigo" (Carlos Drummond de Andrade - Brasil)



O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede.
Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.


O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.


Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém,
nunca fenece
a cada dia surge mais amante.
Mais ardente,
mas pobre de esperança.


Mais triste?
Não.
Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.


(Carlos Drummond de Andrade)

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