Na costa sul-angolana
à beira do deserto profundo
e das planuras infindas,
semeadas de penedias escurecidas,
bruscas,
carcomidas,
entre tufos de capins requeimados
e mares azuis translúcidos
de espumas ferventes e salgadas
a morrerem no areal fulvo,
de repente,
encravada no tempo e nas memórias velhas,
surge a cruz de Cristo,
simplesmente uma cruz.
Jaz alheia à procissão dos séculos,
indiferente aos sacrifícios,
às mortandades,
aos desenganos,
às cobiças,
aos encontros e desencontros,
aos afectos ganhos e perdidos,
já esquecida do passo cadenciado
dos batalhões imperiais
do silvo lacerante das balas e das flechas,
da palavra trémula e anacrónica
do silvo lacerante das balas e das flechas,
da palavra trémula e anacrónica
de políticos arcaicos e longínquos,
de repente,
simplesmente,
eis a cruz.
Cruz solitária e abandonada
de braços abertos ao oceano cálido
que foi em tempos
a estrada franca de caravelas e de sonhos,
de promessas vãs de um mundo novo,
Cruz surda e muda
no desenho geométrico e pontiagudo
das suas linhas definitivas e breves,
carregando em si
apenas
um legado minúsculo,
trágico,
pungente,
inútil,
do Portugal que foi...
ResponderEliminarAi, as belas e inesquecíveis paisagens do Namibe! Mares tépidos, areais cheios de magia, tantas estórias de encantar...