domingo, 31 de outubro de 2010

A Dívida é Bela!

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"Portugal teve o terceiro menor crescimento económico do mundo na última década (6,47%), ganhando apenas à Itália (2,43%) e ao Haiti (-2,39%), numa lista de 180 países publicada pelo 'El País' com base em dados do FMI" - aposto que os leitores ficaram tristes com esta notícia.
Mas a notícia tem duas leituras - ganhar à Itália é sempre de festejar..
E é bonito (e surpreendente para muita gente) existirem 180 países.
Como vêem, existe beleza e felicidade no que à primeira vista parecia mais uma notícia cinzenta e desoladora.
E para quê ficar triste, se pode ficar solidário com a desesperada situação do Haiti?

Não adianta, não é? Só têm olhos para o lado negro. Só conseguem ver o número 178, numa lista de 180, a piscar.
Estão muito pessimistas?
Hum... Então, deitem-se no divã - deixem-me só tirar o busto de Freud, se não, ainda se magoam.


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Sabem qual é o nosso problema?
O problema é que andamos deprimidos.
Portugal está numa espécie de depressão pós-parto depois de uma gravidez histérica - um caso muito grave. Tanto sofrimento e enjoo para, afinal, ser só ar. Se o Doutor Egas Moniz fosse vivo sabia o que fazer… que frase deprimente.

Como podem ver, eu também estou em baixo. Estamos todos: os jornalistas, os políticos, os economistas. O povo, em geral, está deprimido e vê as coisas sempre pelo lado negativo.
Na Função Pública há funcionários tão deprimidos que nem têm força para pedir baixa.
É como se um mosquito, careca, com uma pequena barbicha branca, nos tivesse picado e transmitido o vírus da Medinacarreirice.
Uma espécie de mosca tsé-tsé arraçada de piolho.

Estamos presos na nossa depressão e vivemos com medo e ataques de pânico.
Se a notícia é - "Cientista indiano descobre cura do cancro, Parkinson e Alzheimer" - a nossa reacção é - "grande bronca!. Agora é que não vai haver dinheiro que chegue para as pensões".


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Temos que lutar contra isso.
É verdade que os factos são graves e a realidade é madrasta mas, porque não fazer como o Roberto Benigni no filme "A Vida é Bela"?

Todo o País a fingir que os funcionários do Ministério das Finanças são duendes bons que vêm buscar o nosso dinheiro para o transformar em unicórnios, flamingos rosa e bosques de cogumelos.

Negar a realidade, neste caso, não é falta de coragem.
Com tudo o que se passou, e nos foi dito, temos direito (até por uma questão de sobrevivência) a ter a versão benigna da negação do nosso maior drama.


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Temos que olhar para aquela pesada porta castanha (por onde entrava a comissão negociadora do PSD e do Governo), fechada, cerrar os olhos e abri-los para ver sair, com um estrondo de pandeiretas, um dragão de carnaval chinês, com o ministro das Finanças na cabeça e o Doutor Catroga, aos saltos, em último, fazendo agitar a cauda.
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Por que não dar o exemplo e começar, já, na próxima semana, neste jornal?

Experimentem pôr, na primeira página, os dígitos do défice como se fosse para crianças - um défice alegre, com um sete feito por uma simpática girafa e o três como uma divertida centopeia.
Ou um 7,3 todo em flores da Madeira, com uma trepadeira de rosas no lugar da vírgula.
Já não parece um número tão feio.

Vamos a isso?  (*)
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(*) João Quadros – Jornal de Negócios – Lisboa – Portugal – 29-Out-2010.
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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Grandes Quadros - Rubens

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Os Quatro Filósofos
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(Giusto Lipsius e os Seus Pupilos)
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Peter Paul Rubens - Flandres (1577-1640)

domingo, 17 de outubro de 2010

Cartazes de Galicia (Espanha)

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sábado, 16 de outubro de 2010

De que estamos à espera?

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"(…) O que está a acontecer no nosso país é elucidativo.
O paradigma está a alterar-se, já se alterou, e os nossos políticos, culturalmente muito enfezados, agem na mesma esquadria de há trinta e quarenta anos.
Quero dizer: obedecem, cegamente, ao que do exterior lhes sussurram, e abdicam de criar um esquema próprio de solução dos problemas nacionais.

Sei que é difícil, mas não impossível.
Berlim manda e Bruxelas é o porta-voz. Porém, alguém tem de bater o pé a essa hegemonia.
Desde Bismarck que o Alemão vem por aí abaixo, com armas na mão.
E houve 1914-18 e 1939-45.
Derrotados e humilhados, serviram de veículo a ressentimentos seus e de outros.
A Alemanha não precisa da bomba nem do campo de concentração para ser a potência dominante na Europa.
Chega-lhe e sobra-lhe a força da economia. (…)
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A Direita e a Extrema-Direita avançam em toda a Europa.
A Europa é uma massa inerte que só existe porque a Alemanha assim o permite. Basta atentar na teimosia abstrusa de Ângela Merkel, no pungente problema grego, para nos apercebermos do carácter unilateral e arbitrário de uma política que somente dá garantias e suporte aos mais fortes.
O renascimento da xenofobia, do racismo e dos movimentos neonazis não acontece por acaso.

A Esquerda abandonou as velhas bandeiras que a qualificavam, e esqueceu as causas que a iluminavam.
Só agora, um pouco em Itália e em França, se discute e debate o torção a que a História foi submetida.
Os novos problemas que emergiram, com o financiamento do capital, o movimento migratório, a fome como endemia, a exclusão (ideológica, cultural, identitária) a que assistimos, um pouco por todo o lado, assemelham-se aos anos que antecederam a queda da República de Weimar. (…)


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Como se pode alterar estas situações, tendo presente que o "mercado", a finança, o capitalismo, enfim, tem nas mãos as rédeas de todos os poderes e de todas as decisões?
Creio que o valor moral do ser humano está dependente das circunstâncias.
Ortega o disse.

Todavia, o ser humano dispõe de força suficiente para alterar as circunstâncias.
Historicamente, os ensinamentos são de molde a alimentar as nossas esperanças e a estimular as nossas desafrontas.
Não podemos mais admitir as humilhações a que diariamente somos submetidos.
Nem aceitar viver nesta mentira constante, nesta falta de escrúpulos e de pudor.

Mais é de mais.
De que estamos à espera?"
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Baptista-Bastos – Jornal de Negócios – Lisboa - Portugal (15-Out-2010)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Our America (2) - Transportes

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Conjunto de 4 gravuras lançadas em 1948 pela Coca-Cola, celebrando a tecnologia americana no domínio dos Transportes.
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sábado, 2 de outubro de 2010

Sakineh Ashtiani - Um Rosto nas Trevas

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"Sabíamos que iam matá-la.
Quando o Irão anunciou que tinha suspendido a lapidação, a prémio Nobel Shirin Ebadi disse: «Não confio. Matá-la-ão». E o regime assim o confirmou: não haverá lapidação, “só” enforcamento.
Tendo em conta que Sakineh Ashtiani havia pedido que não a lapidassem diante dos seus filhos, a sentença é um “avanço”. Evidentemente o regime armou todo um corpo legal para considerá-la culpada, mas a crónica da sua tragédia dá-nos a medida da tortuosa perversidade desta tirania.
Sakineh é uma azeri do Azerbaijão iraniano que quase não fala persa. Quando a sentenciaram à morte, nem sequer entendeu a palavra árabe utilizada no código penal iraniano para lapidação: rajam. Foram os seus carcereiros que lhe disseram que havia sido condenada a morrer apedrejada.

Durante todo o processo o seu advogado foi perseguido, impedido de estar com Sakineh e, finalmente, depois de ameaças à sua família, fugiu do Irão. Cinco horas a pé pelas montanhas e o resto a cavalo, até chegar à Turquia, onde a Amnistia Internacional o ajudou a conseguir asilo na Noruega. Numa entrevista a Bernard-Henry Lévy, Mohammad Mostafaei, o advogado, definiu assim Sakineh: «Uma mulher simples».
O tribunal que a condenou à morte não encontrou uma única prova, mas, dos cinco juízes, três eram clérigos radicais que a condenaram baseados na sua “íntima convicção” de que era uma adúltera.
Como disse a própria Sakineh: «Matar-me-ão por ser mulher num país que acredita que pode fazer o que quiser com as mulheres».
Depois da campanha internacional para salvar-lhe a vida, o regime armou outra acusação contra ela, obrigou-a a auto-inculpar-se de homicídio e o resto é conhecido. A forca será o seu destino.

Na prisão de Tabriz, duas outras mulheres esperam ser lapidadas. Azar Bagheri tem 24 anos e há 10 que está na prisão. Casada com 14, acusaram-na de adultério e desde então espera ser lapidada. Para se divertirem, os seus carcereiros fizeram-lhe dois simulacros de apedrejamento.
Maryam Ghorbanzadeh, de 25 anos, apenas deseja que a enforquem em lugar de lapidá-la. Estava grávida e forçaram-na a abortar aos seis meses.
No Irão as mulheres são consideradas sexualmente maduras a partir dos 9 anos, a idade com que podem casar-se e ser adúlteras. Ninguém sabe quantas foram lapidadas sem que o facto se tenha tornado público. A dissidência iraniana fala de muitas.
Sei que este meu desabafo não tem nenhum efeito: é só um grito. Mas ao menos serve para recordar que nem todos somos cúmplices do silêncio no qual o Irão ampara os seus crimes."  (*)

(*) - Rui Herbon – Grito por uma Mulher – em “Jugular” (1-Outubro-2010)
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