(Artista: Maynard Maenzanise)
Pequenas e grandes histórias da História e mensagens mais ou menos amenas sobre vidas, causas, culturas, quotidianos, pensamentos, experiências, mundo...
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Álbuns Especiais do "Cavaleiro Andante" (2) - Um Natal de Outrora...
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Cinco Coisas... (Pablo Neruda)
Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim.
A segunda é ver o Outono.
A terceira é o grave Inverno
Em quarto lugar o Verão.
A quinta coisa são teus olhos.
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da Primavera...
para que continues me olhando.
(Foto de Raul Alexandre)
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
domingo, 21 de dezembro de 2008
sábado, 20 de dezembro de 2008
Portugueses bem pagos e portugueses mal pagos... (ou: a direita e a esquerda)
"Toda a gente quer perceber porque é que a maioria dos portugueses é de esquerda.
Ou: porque é que, segundo as sondagens, a maioria dos portugueses está a "virar" à esquerda (…).
Ou: porque é que, segundo as sondagens, a maioria dos portugueses está a "virar" à esquerda (…).
Não há muito tempo, estudos de opinião situavam o português médio no centro-esquerda. Faziam um retrato conservador daquilo que somos em política: moderados, compromissórios, mas levemente inclinados para a esquerda pela importância que concedemos ao Estado em garantir esquemas vários de assistência social (…).
Se os portugueses que antes eram de centro-esquerda estão hoje ainda mais à esquerda, como explicar o fenómeno?
Verdade que a crise económica e o pessimismo que tomou conta do mundo ajudam a explicar o que se passa.
Verdade que a crise económica e o pessimismo que tomou conta do mundo ajudam a explicar o que se passa.
Quando se tem medo, ninguém pede por mais liberdade e independência, mas por mais segurança e protecção (…).
Mas eu acrescento, e já o escrevi uma vez, que se os portugueses tendem para a esquerda não é por causa de teorias.
Os portugueses são de esquerda porque, no essencial, são mal pagos.
E não são mal pagos no meio de outros igualmente mal pagos.
Os portugueses mal pagos trabalham todos os dias para os portugueses bem pagos.
Mesmo os muito mal pagos têm de "conviver" com os muito bem pagos.
E uns e outros apercebem-se da diferença (…)."
(Pedro Lomba – Diário de Notícias, Lisboa, 11 de Dezembro de 2008)
(Foto de J. Pedro Martins)
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
sábado, 13 de dezembro de 2008
O Pesadelo Liberal
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"(...) Sobre as ruínas da crença socialista, que produziu milhões de deserdados e de miseráveis, os liberais acharam que tinha soado a hora de uma vingança histórica.
O Estado mínimo, que Greenspan caucionou e Bush levou ao extremo do dogmatismo, descendo os impostos sobre os mais ricos, cortando nos programas de ajuda social e facilitando em tudo os negócios do grande capital, assentava numa outra pretensa verdade, de que Greenspan se fez eco: a de que o mercado saberia auto-regular-se, pois que era do seu próprio interesse, do das grandes empresas e do sistema financeiro, não criar as condições para a auto-implosão.
Mais uma vez, o que ficou esquecido neste "wishfull thinking" foi o factor humano. Se a ambição de ser mais rico é o que faz aumentar a riqueza das nações, a ambição da riqueza desmedida, sem horizonte nem controlo dos meios usados, é o que conduz ao seu colapso.
O que falhou, então, não foi apenas a crença na desregulamentação do mercado, na concentração cada vez maior das empresas, nos lucros pornográficos distribuídos entre accionistas e gestores.
O que falhou, antes de mais, foi a noção de ética nos negócios, a lembrança de que a criação de riqueza tem uma finalidade social, não podendo aproveitar apenas ao seu detentor, e que a riqueza fundada na miséria alheia (ou no endividamento de todos perante a banca) conduz, mais cedo ou mais tarde, à falência geral.
A loucura liberal montou um sistema económico à escala planetária fundado na iniquidade e na falta de escrúpulos e de sentido de serviço à comunidade.
Pior ainda, permitiu que o sistema financeiro se apoderasse da economia, que os lucros fantásticos acumulados não correspondessem a riqueza efectivamente criada e que a economia real e produtiva fosse canibalizada pela especulação.
Os mercados accionistas subiam e desciam, não em resultado do desempenho das empresas cotadas, mas das mais-valias realizadas pelos especuladores - que depois corriam a canalizar os seus lucros para os "off-shores", onde ficavam à espera, sem pagar impostos, de nova oportunidade de raide sobre o mercado.
As pequenas poupanças foram assim devoradas pela especulação instalada, levando muitos a investir antes no consumo ou a endividarem-se no imobiliário, por não encontrarem melhor destino para o dinheiro. (...)
(...) Entregue a si mesmo, aos seus instintos mais primários, o homem é um animal perigoso, quer ande pela rua a deambular de revólver na mão quer esteja sentado a uma secretária a gerir o destino de milhares de famílias.
E o pior "serial killer" é aquele a quem foi confiado o poder de destruir, por simples ambição, os empregos e as pensões de reforma de tantos outros que trabalharam toda uma vida, confiados na honestidade do sistema.
Não estamos apenas perante o falhanço de uma teoria económica, é mais do que isso: estamos perante um verdadeiro crime contra a Humanidade.
Milhões de pessoas em todo o mundo estão já a sofrer as consequências da falta de pudor e de escrúpulos de alguns milhares de agentes económicos colocados em lugares privilegiados. (...)
(...) O mundo pode começar a reencontrar o caminho da esperança, com a eleição de Obama como Presidente dos Estados Unidos.
Não, ele não tem uma varinha mágica nem vai conseguir, por melhor que tente, tirar a América e o mundo deste atoleiro tão cedo.
Mas representa outra gente, outra atitude, outra esperança.
Seguramente que acredita numa economia menos iníqua, menos desonesta e menos entregue à lei da selva.
E acredita na necessidade de uma América menos arrogante e menos egoísta.
Cravará os pregos que forem necessários no caixão do liberalismo e, se tiver a lucidez suficiente para tal, trará a América de volta ao lugar da esperança que já foi seu e que perdeu com estes oito anos de pesadelo que foram os de George W. Bush." (*)
(*) - Miguel Sousa Tavares - O Fim de um Mundo Falso - Jornal Expresso, Lisboa, 1 de Novembro de 2008.
(As marcações de texto, em itálico, são da responsabilidade da Torre).
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
O Vírus Liberal (Samir Amin)
Samir Amin, economista egípcio, escreveu em 2003 um interessante livrinho (*), de cuja introdução se retira o pedaço seguinte.
Amin projecta-se num futuro mais ou menos distante, reflectindo sobre ocorrências antigas (de finais do séc. XX - princípios do séc. XXI).
Não seria difícil discorrer assim após as recentes (e omnipresentes) convulsões de índole económico-financeira (essencialmente políticas, pois é disso que, nestes jogos extremos, em última análise se trata).
Notável terá sido fazê-lo há perto de seis anos, como fez o autor...
"Pelos finais do século XX, um mal atacou o mundo. Nem todos morreram dele, mas todos foram atingidos.
Ao vírus que esteve na origem da epidemia deu-se o nome de "vírus liberal". Este fizera a sua aparição por volta do século XVI no seio do triângulo Paris-Londres-Amesterdão.
Os sintomas com que se manifestava pareciam à época insignificantes, e os homens não só se acostumaram, desenvolvendo os anticorpos necessários, como ainda souberam tirar proveito do vigor reforçado que ele provocava.
Mas o vírus atravessou o Atlântico e encontrou na seita dos que o propagaram um terreno favorável, desprovido de anticorpos, o que conferiu formas extremas à doença que ele causava.
O vírus voltou a aparecer na Europa pelos finais do século XX, regressado da América, onde havia sofrido mutações, e, reforçado, conseguiu destruir grande número dos anticorpos que os europeus tinham desenvolvido ao longo dos três séculos precedentes.
Assim provocou uma epidemia que podia ter sido fatal para o género humano, não fora os mais robustos dos habitantes dos países antigos terem sobrevivido à epidemia, acabando por conseguir erradicar o mal.
O vírus provocava nas vítimas uma curiosa esquizofrenia.
O ser humano deixava de viver como um ser total, que se organizava para produzir o necessário à satisfação das suas necessidades (aquilo que os estudiosos qualificaram como 'vida económica') e que ao mesmo tempo desenvolvia instituições, regras e costumes que lhe permitiam progredir (o que os mesmos estudiosos designaram por 'vida política'), conscientes de que estes dois aspectos da vida social eram indissociáveis.
Doravante, passou a assumir-se ora como 'homo economicus', abandonando àquilo a que chamava 'o mercado' a tarefa de regular automaticamente a sua 'vida económica', ora como 'cidadão', depositando nas urnas os votos com que escolhia aqueles que tinham a responsabilidade de estabelecer as regras do jogo da sua 'vida política'.
As crises do final do século XX e do início do século XXI - de que felizmente já nos livrámos definitivamente - giravam todas em torno das confusões e dos impasses provocados por esta esquizofrenia.
A Razão - a verdadeira, não a americana - acabou por levar a melhor.
Todos os povos sobreviveram, os europeus, os asiáticos, os africanos, os americanos e até os texanos, que entretanto mudaram muito e se tornaram seres humanos semelhantes aos outros.
Optei por este final feliz, não por um incorrigível optimismo, mas porque na outra hipótese não haveria mais ninguém para escrever a história.
Fukuyama estaria certo: o liberalismo anunciava efectivamente o fim da história.
Portanto, toda a humanidade teria perecido no holocausto.
Os últimos sobreviventes, texanos, ter-se-iam organizado num bando errante, para depois serem imolados sob as ordens do chefe da sua seita, que julgavam ser uma personagem carismática.
Também se chamava Bush (...)".
Samir Amin, que nasceu no Cairo, Egipto, em 3 de Setembro de 1931, é um economista neo-marxista, um dos mais importantes da sua geração. Realizou os seus estudos (política, estatística, economia) em Paris. Reside, actualmente, em Dakar (Senegal).
Entre 1957 e 1960 trabalhou na administração pública egípcia, na área do desenvolvimento económico.
Foi conselheiro do governo do Mali entre 1960 e 1963.
Em 1970 tornou-se director do Instituto Africano de Desenvolvimento Económico e Planeamento, com sede em Dakar.
É presentemente director do Forum do Terceiro Mundo, uma associação internacional formada por intelectuais da África, Ásia e América Latina, destinada a fortalecer os laços entre os países do Terceiro Mundo (também com sede em Dakar).
(*) - Le Virus Libéral, Temps des Cerises, 2003.
Editado em Portugal pela Campo das Letras, Porto, 2005, com o título: O Vírus Liberal - A Guerra Permanente e a Americanização do Mundo (96 págs.)
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Angola - Curas Milagrosas...
... garantidas pelo Dr. João Diassonama, que exerce (ou exercia) para os lados do Bairro da Petrangol, em Luanda.
Seria decerto também um sucesso em Portugal, onde não haverá especialistas que cheguem para enfrentar males tão graves como a maluquisse, a doença misteriosa e a doença de barata.
Para já não falar da tremenda doença de queimadura da noite e da impertinência dos fenómenos estranhos...
Angola inimitável e eterna!
(Imagem devida a Angola em Fotos)
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Mãe de Angola
(Retirado de Bimbe, um excelente blogue que a Torre recomenda a todos os que amam ou se interessam por Angola. A foto é de Luís Araújo Pinheiro).
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Álbuns Especiais do "Cavaleiro Andante" (1)
Álbum Especial do Cavaleiro Andante, banda desenhada publicada em Junho de 1955 pela Empresa Nacional de Publicidade (Lisboa - Portugal).
Preço: 6 escudos (cerca de 3 cêntimos de euro, em termos actuais).
Continha, entre outras matérias, uma excelente versão de "A Pradaria", história criada em 1827 por J. Fenimore Cooper.
Cooper, autor do divulgadíssimo O Último dos Mohicanos (1826), foi um famoso escritor norte-americano (n. em 1789 - f. em 1851).
Preço: 6 escudos (cerca de 3 cêntimos de euro, em termos actuais).
Continha, entre outras matérias, uma excelente versão de "A Pradaria", história criada em 1827 por J. Fenimore Cooper.
Cooper, autor do divulgadíssimo O Último dos Mohicanos (1826), foi um famoso escritor norte-americano (n. em 1789 - f. em 1851).
Pode ver em baixo a estátua que o homenageia, erigida em Cooperstown, New York.
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sábado, 22 de novembro de 2008
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
terça-feira, 18 de novembro de 2008
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Chaka e Dingane - Os Zulus e os Bóeres (África do Sul)
"(...) É durante esta odisseia que vai produzir-se um tremendo embate entre os Bóeres e as tribos bantas.
Contra a opinião dos que preferiam os caminhos do Norte, alguns milhares de pioneiros, chefiados por Piet Retief, espicaçaram as juntas de bois rumo a leste. Tiveram o cuidado de tornear os domínios dos Xhosas, o perigoso caldeirão onde havia mais de meio século fervilhavam mortíferas guerras de fronteira.
Efectuaram um desvio por nordeste, a golpes de tenacidade, através das cadeias montanhosas do Drakensberg. Foi literalmente à força de braços que fizeram transpor aos carroções e aos animais os obstáculos dos maciços rochosos e o vazio apavorante dos abismos.
Desta maneira se foram acercando, sem se darem conta, de um torvelinho humano onde se repercutiam ainda as ondas de choque da notável aventura expansionista dos Zulus, guiados por Chaka.
Este famoso soberano negro, que conduzira os destinos do seu povo, no Natal, entre 1816 e 1828, tinha forjado a partir da sua tribo insignificante uma destrutiva máquina de guerra e com ela talhara um poderoso império.
À frente de guerreiros descalços, munidos de escudos enormes e de zagaias curtas que obrigavam ao corpo-a-corpo, Chaka espalhara acções de conquista e extermínio entre os povos vizinhos. Atacou a norte, a oeste e, também, a sul, na direcção das terras onde os Xhosas prosseguiam as suas disputas com os bóeres fronteiriços.
A consolidação do império ficou a dever-se à sua genialidade e à bravura dos seus guerreiros, submetidos a uma disciplina espartana, treinados até à exaustão e de energias espevitadas por forçados períodos de castidade.
O rolo compressor do expansionismo zulu ocasionou milhares de mortos e a fuga espavorida de legiões de sobreviventes, que, no frenesi do recuo, disseminavam a devastação e o luto por onde quer que passassem. Ao redemoinho destas massas humanas deslocadas, pelejando ardorosamente pela sobrevivência, deu-se o nome de mfecane. Teve como resultado, para além do trágico cortejo de vítimas, o desmoronamento de velhos reinos e a emergência de novas e esperançosas nações.
Até a colónia portuguesa de Moçambique, situada para norte, à beira do Índico, não se furtaria ao gigantesco abalo, sofrendo a invasão de um exército de zulus comandados por um dissidente de Chaka - Sochangane, ou Manicusse. Deste cabo-de-guerra africano descenderia um neto não menos famoso, Gungunhana, filho de Muzila, muito celebrado pelos Portugueses nas suas coloridas crónicas de guerra do fim do século, em Moçambique.
Foram territórios em parte desembaraçados de gente que os Bóeres, possuídos de optimismo, cruzaram nos começos do Grande Trek. Mas tratava-se de um despovoamento passageiro, provocado pelas fugas aos massacres. Com a paz, produzir-se-ia o refluxo e o consequente choque entre brancos e africanos. Também os dois mil bóeres de Piet Retief se deixaram embalar por doces ilusões, quando, em Outubro de 1837, transpostas enfim as penedias do Drakensberg, poisaram os olhos extasiados nos campos fecundos e floridos do Natal, contíguos ao Índico.
Com o momentâneo eclipse da ameaça zulu principiou a desvanecer-se o turbilhão do mfecane e dos morticínios a ele associados. Os Bóeres aproveitaram a maré e, em 1839, proclamaram a República do Natal, convencidos de que os portões da terra prometida rodavam enfim nos gonzos para lhes franquearem a entrada. Pura quimera. Ainda mal haviam saboreado o triunfo sobre Dingane e já tinham de novo à sua frente, como num sonho mau, aqueles persistentes Ingleses de que andavam fugidos. (...)" (*)
Souberam que algumas dezenas de aventureiros e comerciantes ingleses se agitavam já na costa e perceberam que tinham acabado de desembocar no coração do império zulu.
Chaka fora assassinado em 1828 por Dingane, seu meio-irmão. Este, molemente afundado na velha poltrona que lhe servia de trono e reconfortado pelos mimos de uma centena de concubinas, dirigia de Umgungundhlovu - o Lugar do Elefante - os destinos do seu temível povo de guerreiros.
Dingane, o Grande Elefante, perante quem os visitantes se rojavam de joelhos, acolheu jovialmente Piet Retief, assim que este chegou acompanhado de um comando de sessenta bóeres. O rei africano nem sequer pestanejou quando os estrangeiros lhe estenderam uma vaga papeleta para que ele lhe apusesse o seu sinal. Não lhe ia decerto pela cabeça que, com aquele displicente rabisco, os seus interlocutores se atrevessem a intitular-se proprietários de uma parcela das suas terras. Mesmo que assim fosse, Dingane, posto de sobreaviso quanto à iminente chegada de alguns milhares de brancos, guardava dentro de si a chave que o libertaria daquela embrulhada.
Assim, a 6 de Fevereiro de 1838 convidou Piet Retief e os seus homens para celebrarem o acordo com generosas libações de cerveja local, enquanto os guerreiros tratavam de os homenagear com danças altivas. Os Bóeres, desarmados, sorvendo com placidez o fumo dos cachimbos, seguiam prazenteiros as evoluções dos dançarinos. Isto durou até ao instante em que o dissimulado soberano, deixando tombar a máscara da cortesia, desatou aos berros: Matem os feiticeiros!
Os guerreiros zulus caíram em fúria sobre os brancos desprevenidos, massacraram-nos até ao último e abandonaram os corpos ensanguentados à voracidade dos abutres.
Era seu propósito infligir aos intrusos uma lição mestra, tão aterrorizadora que os convencesse a debandar, de uma vez por todas, dos seus domínios. Soltou os guerreiros pelos vales e colinas do território, na peugada das famílias bóeres desacauteladas. Perto de trezentos calvinistas - homens, mulheres e crianças -, juntamente com duas centenas de servos hotentotes, foram deste modo chacinados.
Depois da matança, e tal como calculara Dingane, alguns dos brancos decidiram tomar a direcção do Norte, para lá do rio Vaal, à procura de refúgios menos conturbados. A maior parte deles, porém, vigorosamente espicaçados pela determinação das mulheres, entre as quais sobressaía a viúva de Piet Retief, optaram por resistir. Isso trouxe-lhes, até quase ao final do ano, um nunca mais acabar de sobressaltos. Flagelados pelas investidas zulus, passavam dias a fio entrincheirados nos seus laagers.
Os laagers consistiam numa espécie de fortalezas ambulantes formadas por carroções dispostos em círculo, com todos os interstícios vulneráveis atravancados de arbustos espinhosos. Os pioneiros desfechavam desses sólidos abrigos um fogo nutrido sobre os assaltantes e, em ocasiões propícias, montavam a cavalo e desferiam rápidos contra-ataques.
Em Novembro de 1838, senhor de todos os trunfos, o Grande Elefante parecia ter a partida ganha. Naquelas horas de agonia os Bóeres foram vendo desaparecer os seus chefes mais carismáticos. Depois de Piet Retief calhou a vez a Uys, abatido numa emboscada com vários companheiros, e a Maritz, que sucumbiu à doença. Potgieter, que jamais concordara com o malfadado desvio para o Natal, acabou por partir com os apaniguados até à relativa segurança do Vaal.
Em Novembro de 1838, senhor de todos os trunfos, o Grande Elefante parecia ter a partida ganha. Naquelas horas de agonia os Bóeres foram vendo desaparecer os seus chefes mais carismáticos. Depois de Piet Retief calhou a vez a Uys, abatido numa emboscada com vários companheiros, e a Maritz, que sucumbiu à doença. Potgieter, que jamais concordara com o malfadado desvio para o Natal, acabou por partir com os apaniguados até à relativa segurança do Vaal.
Enquanto Dingane se aprestava para o ataque decisivo, operou-se uma reviravolta providencial no destino daquela gente: Andries Pretorius, um abastado proprietário do Cabo que resolvera juntar-se ao êxodo, chegou com o seu comboio de carroções às terras dos Zulus.
Robusto, lúcido e ousado, Pretorius foi eleito comandante dos pioneiros bóeres do Natal. Ordenou que todas as noites se formassem laagers e, bom psicólogo, pressentindo o choque final, manipulou com astúcia o misticismo reinante: convocou o seu meio milhar de combatentes e fê-los jurar que, em caso de triunfo, construiriam um templo comemorativo e passariam a guardar um dia anual de acção de graças. Assim fortalecidos, acolheram-se todos ao laager de sessenta carroções, nas vizinhanças de um estreito curso de água, e esperaram.
Milhares de zulus entoaram cânticos de guerra e lançaram-se sobre os Bóeres. Estes receberam-nos de corações abrasados de fé, com as suas preces, os seus salmos e, como é óbvio, com o fogo das carabinas, sublinhado pelo estampido de algumas salvas de canhão.
Uma e outra vez retrocederam os assaltantes, para logo retomarem a ofensiva. Os mais destemidos conseguiram transpor a barreira de fogo e trepar aos toldos dos carroções, pulando para o interior do círculo defensivo. Aqui se feriu um selvático combate à zagaiada e à machadada, em que o próprio Pretorius escapou à morte por um fio.
Três horas após o início das hostilidades, o exército zulu achava-se exausto e em retirada. Os cadáveres de três mil guerreiros cobriam o solo, contra perdas insignificantes dos defensores, e as águas do riacho adquiriram por instantes a pavorosa tonalidade do sangue das vítimas. Por tal facto, os Bóeres aludiriam daí em diante a este evento como a Batalha do Rio do Sangue.
No arrebatamento da vitória, um numeroso comando calvinista saiu em perseguição do exército inimigo destroçado, fustigando-o ao longo de quilómetros. Dingane, com o orgulho de rastos, deixou aos inimigos Umgungundhlovu em cinzas, onde, não obstante, os Bóeres arranjaram maneira de recuperar os despojos de Piet Retief e o texto do acordo celebrado com o Grande Elefante. Chegaria em breve o tempo de neste se cumprir a espécie de maldição que há muito pairava sobre o destino dos soberanos zulus. Assassino do grande Chaka, que fora, por sua vez, proscrito na infância pelo pai, Dingane acabaria traído e derrotado pouco mais tarde por seu irmão Mpande, que um missionário descreveria como um verdadeiro cavalheiro banto. Posto em fuga, o Grande Elefante seria assassinado na Suazilândia.
Com o momentâneo eclipse da ameaça zulu principiou a desvanecer-se o turbilhão do mfecane e dos morticínios a ele associados. Os Bóeres aproveitaram a maré e, em 1839, proclamaram a República do Natal, convencidos de que os portões da terra prometida rodavam enfim nos gonzos para lhes franquearem a entrada. Pura quimera. Ainda mal haviam saboreado o triunfo sobre Dingane e já tinham de novo à sua frente, como num sonho mau, aqueles persistentes Ingleses de que andavam fugidos. (...)" (*)
(*) - José Bento Duarte - Senhores do Sol e do Vento - Histórias Verídicas de Portugueses, Angolanos e Outros Africanos - Editorial Estampa - Lisboa - 1999
NOTA IMPORTANTE
FOI RECENTEMENTE LANÇADA pela editora Perfil Criativo (Autores.Club) a 3.ª edição desta obra, revista e reestruturada pelo autor (Maio de 2022):
Pode aceder a mais informações nos links abaixo:
1 – APRESENTAÇÃO GERAL DO LIVRO ---- Clicar em:
Senhores do Sol e do Vento | José Bento Duarte | Angola (autores.club)
2 – APRESENTAÇÃO COM OPINIÕES DE VÁRIOS CRÍTICOS ---- Clicar em:
Senhores do Sol e do Vento – AUTORES.club
(3.ª edição) (Perfil Criativo - AUTORES.club) |
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Eterno Feminino...
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Miriam Makeba - Calou-se a Voz de África (1932 - 2008)
F. Castel Volturno (Itália) em 9-Novembro-2008.
Podem recordá-la aqui: