terça-feira, 30 de novembro de 2010

"Estou Farto dos Mercados!"

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“Vejo na televisão imagens de rua da Irlanda, da Grécia, da Espanha, e são iguais às de Portugal: as pessoas movem-se de ou para o trabalho, há transportes a funcionar, comércio aberto, crianças a irem para escola, enfim, a vida como habitualmente.
A mim parece-me que estes países e estas pessoas estão vivas, que não estão à beira da morte.
Mas não, é ilusão minha: todos os noticiários nos dizem que sobre esta gente e estes países pesa a mais tenebrosa ameaça destes sinistros tempos económicos que se vivem: os mercados.
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Estou farto dos mercados, estou farto da constante ameaça dos mercados:
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os mercados acordaram bem dispostos mas, depois do almoço, os mercados enervaram-se e subiram-nos outra vez as taxas de juro;
os mercados não gostam disto, os mercados querem aquilo;
os mercados querem um orçamento aprovado, os mercados não acreditam na execução do orçamento que queriam aprovado;
os mercados assustam-se quando o ministro das Finanças fala, os mercados reagem em stresse se o ministro fica calado mais do que dois dias;
os mercados querem que os Estados desçam o défice, diminuindo despesas e aumentando receitas, mas os mercados fogem se a PT pagar um euro que seja de imposto sobre as mais-valias do maior negócio europeu do ano;
os mercados estão preocupados com a quebra do consumo, mas os mercados adoram os aumentos do IVA;
os mercados recomendam cortes salariais, mas os mercados são frontalmente contra os cortes nos salários e prémios dos gestores das grandes empresas, porque isso é uma intromissão estatal que contraria a regra da concorrência... nos mercados.
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Sim, eu sei: à falta de alternativa, estamos na mão dos mercados e não os podemos mandar para onde bem nos apetecia e eles mereciam.
Mas convém não esquecer que foi esta fé nos mercados, como se fosse o boi-ápis, a desregulação e falta de supervisão dos famosos mercados, que mergulharam o mundo inteiro na crise que vivemos, devido ao estoiro do mercado imobiliário especulativo e do mercado financeiro, atulhado do que chamam "activos tóxicos" - que deram biliões a ganhar a muito poucos e triliões a pagar por todos.
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A Irlanda, que hoje os mercados flagelam com juros acima dos 8%, está onde está, não porque a sua economia tenha ido à falência (pelo contrário, e como sucede com Portugal, está em crescimento), mas porque os seus tão acarinhados bancos, maravilha fatal dos mercados e do liberalismo selvagem, rebentaram de ganância e irresponsabilidade e obrigaram o Estado a resgatá-los à custa de um défice de 32%.
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Num mundo justo, os mercados deveriam ser os primeiros a pagar pela falência da Irlanda; no mundo em que vivemos, quem ganha com isso são os mercados outra vez e quem paga são os contribuintes - irlandeses primeiro, europeus depois - e os desempregados da Irlanda.
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Por isso, a srª Merkel disse que seria justo que os mercados (isto é, os investidores na dívida pública irlandesa) participassem também nos custos de resgatar a dívida irlandesa, se isso se vier a revelar inevitável.
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 Mas, no mundo em que vivemos, o que sucedeu é que toda a gente caiu em cima da srª Merkel, porque a sua declaração logo fez subir as taxas de juro junto dos indignados mercados.
Mesmo no Inverno, já nem espirrar se pode, porque os mercados não gostam (…)”  (*)
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(*) - Miguel Sousa Tavares - Estou Farto dos Mercados!
Jornal Expresso - Lisboa - Portugal - 20-Nov-2010
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sábado, 27 de novembro de 2010

Locomotivas da antiga União Soviética

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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Festas na Jamaica (ano de 1837)

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Artista: Isaac Mendes Belisario


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Jamaica, ilha localizada no mar das Caraíbas, 145 km a sul de Cuba.
É uma nação independente (capital: Kingston).
Foi descoberta pela Espanha e posteriormente conquistada pela Inglaterra (1670).
Durante os dois primeiros séculos de domínio britânico tornou-se no maior exportador mundial de açúcar, devido sobretudo à utilização de trabalho escravo africano.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Ai, ai, Frau Angela...

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Angela Dorothea Merkel, chanceler da Alemanha
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"Mesmo a economia, que em tese devia ter a sua lógica própria, mais não é do que política feita por outros meios.
Estes últimos meses demonstram como o tão falado "nervosismo" dos mercados é afinal o mais trágico dos argumentos da política - só superável pela guerra -, capaz de vergar e destruir países inteiros.

Os factos falam por si.
Até à senhora Merkel, a Alemanha era o motor de uma Europa pensada como um todo.
Agora, a Alemanha pensa-se como uma parte separada do resto.

A crise atual resulta, em grande medida, do renascimento do nacionalismo na direita alemã.

Ou tiram de lá a senhora depressa ou isto acaba mal para todos." (*)
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(*) - Leonel Moura - Jornal de Negócios - Lisboa - Portugal (19-Nov-2010)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Encontros Africanos...

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domingo, 14 de novembro de 2010

Festas de Sevilha! (Espanha)

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Sevilla (de Isaac Albéniz) - Interpretação de John Williams
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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A Consciência do Tempo

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."Há semanas que temos vindo a ser submetidos a um processo de intimidação mental e de asfixia social, que largamente ultrapassa os limites do suportável.
O fantasma é o FMI (Fundo Monetário Internacional), intermitente como todos os fantasmas, a ameaçar-nos de medos maiores do que os medos habituais no viver português.

Vem, não vem, está para vir, não virá.
Esta dialéctica absurda é alimentada pelas nossas fraquezas perante conclusões aparentemente inexoráveis. Estamos nos antípodas do clima de serenidade, necessário a quem não renunciou da faculdade de se refazer para continuar a lutar por um mundo melhor.
Mas a angústia metódica que nos inculcam, com estribilhos assustadores e práticas políticas temíveis, deixa marcas.
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No último Prós e Contras, o sistema que nos conduziu a esta miséria foi colocado em questão.
A falência de um modelo sem piedade e desprovido de outro objectivo que não seja o da acumulação de riqueza atravessou os depoimentos.
Uma filosofia que paralisa e obriga à servidão, oscila entre o terror e a barbárie.
Alguém, piedosamente, tentou dizer da necessidade de "humanizar o capitalismo".

Pode "humanizar-se" um sistema cujas origens se baseiam, exactamente, no seu contrário?
Um pouco por todo o lado, a contestação contra a preeminência do "mercado" sobre a razão dos valores morais atinge aspectos significativos.
Os sinais que a época nos fornece são evidentes.
E a própria Igreja, por natureza prudente e extremamente discreta, começa, aqui e além, a dar mostras da sua inquieta perplexidade.
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Há semanas, a convite do Montepio Geral, desloquei-me ao Porto, a fim de debater, publicamente, com o bispo D. Manuel Clemente o problema da fome e da exclusão social.
Há uma forma degradada de vida que a violência do neoliberalismo transformou em "normalidade".
O bispo defendeu o espírito de entreajuda, tese também advogada por D. Carlos Azevedo, no Prós e Contras.

São paliativos que nada solucionam e apenas evocam um conceito de caridadezinha, amiúde execrável.
A Igreja tem de ser compelida, e até arrastada, pelo movimento das ideias, a encorajar o protesto generalizado e a indignação colectiva.
Não deve quedar-se, através de murmúrios compassivos, pela solidariedade inócua com o sofrimento.

O essencial está em causa. A boa vontade não chega.
É outra expressão do quietismo, a forma mais sórdida de cumplicidade, e outro modo de disciplina férrea, com que as classes dominantes impõem as suas leis e regras.

Reformar o quê?
Quando, na realidade, estamos a falar do demoníaco, contido numa ideologia que introduziu, como modelo de sociedade, a resignação e o aviltamento progressivo da condição humana.

O campo da nossa batalha não é a procura do eterno: é a consciência do nosso tempo."    (*)

(*) - Baptista-Bastos - Diário de Notícias - Lisboa - Portugal (10-Novembro-2010)

sábado, 6 de novembro de 2010

O Senhor Imperador em Lisboa

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“Este império chim foi sempre correndo por direitas sucessões de uns reis nos outros, desde aquele tempo até uma certa idade que, segundo parece pela nossa conta, foi no ano do Senhor de mil cento e treze, e então foi esta cidade de Pequim entrada de inimigos, e assolada, e posta por terra vinte e seis vezes. Mas como já neste tempo a gente era muita e os reis muito ricos, dizem que o que então reinava, que tinha por nome Xixipão, a cercou toda em roda da maneira que agora está …” (*).
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Quatrocentos e vinte e sete anos depois de Fernão Mendes Pinto, aventureiro luso no Oriente; vinte e três depois de Bernardo Bertolucci, inspirado realizador; quarenta e três sobre Pu Yi, “o último imperador” – eis que desembarca em Lisboa Hu Jintao, Presidente da República da China.
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Chega, com um séquito de ministros e empresários, num tempo de manifestações anti-eixo Berlim-Paris (cortes obrigatórios de salários, desbaste de pensões, amputação de abonos sociais, condenações à miséria em nome da resolução do sacratíssimo défice dos países pobres da Europa).
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Hu Jintao bate-nos à porta enquanto os doutos catastrofistas da Pátria lusa se acotovelam nas colunas dos jornais ou nos estúdios de TV para debitarem, cada um à vez ou em coros esganiçados, na sua subserviência rasteira perante os impiedosos poderes da alta finança, as suas receitas de terror para um povo cuja verdadeira desgraça foi ter nascido na mesma terra do que eles…
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E falam, e receitam, e falam, e receitam (que se corte ainda mais nos salários, que se entre sem piedade pelas pensões, que se reduzam a cisco os abonos…).
E continuam a falar, a receitar - e a comer desalmadamente das arcas públicas.
Luzidios, prósperos, fartos, principescamente remunerados, comodamente refastelados no conforto obsceno e meramente opinador das suas cátedras de incompetência e de ética ausente.
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Fazem lembrar, no resfolegar satisfeito da sua fama passageira, aqueles “carneiros bem medrados” de que falava o mestre Aquilino Ribeiro.
É por causa de gente como esta, e daquilo que ela representa, que o mundo se purifica de vez em quando em revoluções redentoras - por sua vez impiedosas....
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Chega, entretanto, o senhor imperador - que já não é o Xixipão de Fernão Mendes Pinto, mas o honorável Hu Jintao.
Perguntam uns tantos do povo: será que o senhor nos compra a dívida mais em conta, aliviando-nos da pressão dos nossos credores europeus?
Nos dias que correm, é tudo quanto parece contar...
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É pois o tempo de outras estratégias, de novas amizades, de exóticas alianças.
Mas, com amigos comunitários como os Alemães e os Franceses, quem precisa de inimigos?
Que viva, então, a China?
Que viva, então, o novo imperador – depois de Pu Yi?

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(*) - Fernão Mendes Pinto - Peregrinação
Publicações Europa-América - Lisboa - Portugal
1.º vol., pág. 241.
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