sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

"História de Portugal" - Um livro recomendado

Rui Ramos (coordenador), Bernardo de Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro escreveram a História de Portugal num só volume - da Idade Média ao século XXI.
São, exactamente, 976 páginas.

Não podendo abarcar tudo, a obra elege, com sólido critério, o essencial.
As articulações temáticas e expositivas estão muito bem conseguidas, donde resulta um fio narrativo constante e eficaz.
Os assuntos (ainda hoje) controversos são abordados com inteligência, originalidade e o indispensável destemor intelectual, deixando por vezes - como é desejável nestas matérias - algumas portas entreabertas para futuras incursões e caminhadas interpretativas, destes ou doutros autores.
Linguagem escorreita e atractiva, combinando harmoniosamente os estilos de uma (sempre arriscada) autoria tripartida.
A documentação seleccionada é contida, mas útil.
Também úteis os quadros, gráficos, mapas e cronologias, bem como as listas de governantes.
Um excelente livro.

Leitura recomendada pela Torre.

A edição é de A Esfera dos Livros, Lisboa, Portugal (Novembro de 2009).
Preço da obra: 39 €.

Do prólogo:

(...) As Histórias de Portugal publicadas na década de 1990 têm vários volumes e frequentemente vários autores por volume.
Há algum tempo que já não há um esforço para sintetizar os conhecimentos adquiridos e as hipóteses admitidas pelo trabalho historiográfico.
As sínteses hoje mais correntes foram originalmente pensadas e elaboradas antes da recente explosão da História: a de A. H. de Oliveira Marques teve a sua primeira versão em 1972 e a de José Hermano Saraiva foi publicada pela primeira vez em 1978.

Era tempo de historiadores das novas gerações, sem esquecerem o que devem aos seus antecessores, tentarem pôr a História, tal como é feita hoje, em contacto com o grande público. Essa foi sempre, aliás, a vocação da História.
A fim de chegar a muitos leitores, não quisemos, porém, simplificar, mas tornar claro.
Simplificar e esclarecer são duas operações completamente diferentes.
Para fazer este livro, foi preciso reduzir, desbastar, seleccionar o material: mas fizemo-lo de modo a distinguir o que mais importa, sem de modo algum sacrificar complexidades que são fundamentais para a compreensão.
O leitor que imaginámos para este livro é um leitor exigente (...).

(...) Esperamos que este livro possa interessar a todos aqueles que sabem que uma sociedade não é apenas o que existe, mas também tudo o que existiu (e existirá), e que portanto a amnésia não é mais vantajosa numa sociedade do que num indivíduo.
Apesar das limitações do nosso trabalho, gostaríamos que esta História de Portugal despertasse a atenção para a importância da História como meio de dar profundidade à reflexão e ao debate público sobre o País, por vezes demasiado circunscrito por uma tecnocracia "presentista", para quem Portugal parece ter começado hoje.
Porque a História não é só um acervo de conhecimentos, mas uma maneira de pensar (...)."

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Grandes Quadros - Caspar Netscher (Holanda)


A Rendilheira (1662)







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Retrato de Suzanna Huygens (1667-69)

Pintor - Caspar Netscher (Holanda)
(n. 1639 - f. 1684)

sábado, 23 de janeiro de 2010

Os Vikings (Cromos - Espanha - 1965)

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Publicado por MAGA, Espanha, ano de 1965.
Desenhos - Luis Bermejo e Matías Alonso
Textos - Pedro Quesada
Extraído de "Viñetas", de Joan Navarro.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Grandes Quadros - Dante Gabriel Rossetti

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A Noiva (1866)

Dante Gabriel Rossetti - Inglaterra - (1828-1882)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Tempos Antigos - Cuba

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Vendedor de géneros alimentícios

Fonte: Álbum Pintoresco de la Isla de Cuba - Habana - Cuba - cerca de 1850.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Santa Eulália - Barcelona




Cripta de Santa Eulália, situada sob o presbitério da catedral de Barcelona, Espanha.
Rezam as histórias antigas que Eulália, humilde pastorinha de gansos, terá sido treze vezes martirizada pelos Romanos, quando estes dominavam a Península Ibérica (um martírio por cada um dos seus anos de idade).
Chegou a ser padroeira desta mesma cidade de Barcelona.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Aberturas de Grandes Livros - "Portugal Amordaçado" (Mário Soares - Portugal)

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“Este livro tem uma história.
Começou a ser escrito em São Tomé, quando me encontrava deportado, sem prévio julgamento e por tempo indefinido, nessa pequena ilha equatorial.
Precisamente, a ideia surgiu-me quando tive conhecimento pela rádio, única fonte das notícias do dia, de que Salazar tinha sido operado a um hematoma craniano.
Nesse momento, compreendi que uma época da história portuguesa tinha terminado. E que era justo – e necessário – fazer o ponto de todo esse tão longo e doloroso período histórico.



Em vida de Salazar, um livro como o meu era, em sentido rigoroso, inconcebível. Esta simples verificação diz muito sobre a dureza dos tempos que nos tem sido dado viver, em Portugal, e explica por que razão este é o primeiro depoimento sobre a era salazarista. Outros se lhe seguirão, espero – enriquecidos com a visão de outros ângulos da realidade e mais bem elaborados.

É importante e urgente que assim aconteça, para que daí resulte um melhor conhecimento do período da história pátria que se encerrou com o desaparecimento de Salazar e que tanto tem pesado sobre nós. É importante, sobretudo, como contributo essencial para a reflexão que colectivamente todos temos de fazer sobre o nosso futuro.

Mário Soares foi Presidente da República de Portugal de 1986 a 1996

Tendo-me colocado numa posição de combate clara e fortemente empenhada, não se pode pretender que o meu depoimento tenha a fria objectividade de um observador exterior aos factos. Não procurei fazer história, nem escrever capítulos esparsos de memórias, com o desprendimento de quem fala de um passado morto e encerrado, ou compõe, à sua maneira, os factos em que participou, para ilustração dos vindouros.

O meu objectivo foi outro: dar singelamente testemunho de um longo combate desigual, a que assisti e em que estive interessado, mas preocupando-me essencialmente com a preparação do futuro.
Entretanto, procurei redigir as páginas que se seguem com escrupulosa verdade (…)”.

Portugal Amordaçado - Mário Soares (n. 1924) - Publicado por Editora Arcádia - Lisboa - Portugal - 1974.

sábado, 9 de janeiro de 2010

O José das Caixinhas, ou "O Mano das Manas" (Luís Augusto Palmeirim - 1879)




Quem o não conheceu?
Magro, triste, escalavrado, com o chapéu enterrado pela cabeça abaixo, a sobrecasaca ferindo-lhe a espinha dorsal, e as botas como que convidando mais dois pés a alojarem-se junto dos outros dois.
O José das Caixinhas foi, durante muitos anos, o alegrão da garotada, o debique das compradoras folgazãs das caixinhas de papelão, sem serventia determinada.
Quem foi, ou quem era o José das Caixinhas?

(…) O José das Caixinhas era um estóico.
Levava resignadamente a vida, como um animal de carga as cangalhas que o sobrecarregam, sem perguntar porquê nem para onde.
Com um desbotado lenço da Índia atado pelas quatro pontas, e literalmente prenhe de caixas de papelão de várias cores e feitios, percorria o nosso homem a cidade, subindo aos quintos e sextos andares, justificando-se de inculcar à queima-roupa a sua indústria com o resmungar por entre dentes a sacramental desculpa:
É para as manas! Muita pobreza! Comprem, que é para as manas!”




Quem eram as manas?
Novo mistério! Tinham sido bonitas, esbeltas, provocadoras?
Ou tinham nascido e viviam agarradas à concha como a tartaruga, deitando apenas as mãos de fora para retalhar o papelão e ajeitá-lo em formas caprichosas, inventando-lhe depois aplicações também caprichosas?
Não sabemos. Eram as manas. Nesta fraternidade misteriosa se resumia todo o segredo comercial do José das Caixinhas.
Antigamente havia quem pedisse para as almas do purgatório, para os cativos de Argel, para os órfãos; como hoje se pede por anúncios para os asilos, para os albergues, para as creches, para os hospitais. (…)

Deste entranhado amor fraterno, sempre velho e sempre novo, veio ao José das Caixinhas o duplo cognome do “mano das manas”, que ele aceitava como galardão das estafas diárias que apanhava para vender por dois ou três patacos uma caixa de papelão amarelo, com recortes verde-salsa, ou uma almofadinha da cor das chamas infernais, debruada de azul celeste, aliança pouco engenhosa das duas cores simbólicas da bem-aventurança e da condenação eterna.

Para não enxovalhar estes primores artísticos saídos das mãos enrugadas mas limpas das manas, usava o José das Caixinhas luvas de pelica branca, a que sobravam quatro ou cinco centímetros no comprimento dos dedos, o que lhe embaraçava a agilidade precisa para desatar os nós do lenço, invólucro da mercadoria que o amor fraterno punha em circulação com tanto interesse como conhecimento de causa. (…)



Já no fim da vida de negociante de caixas de papelão parece que a saúde das manas não era também das mais florescentes; pelo menos, se lhe perguntavam por elas, a resposta sabida era: “Estão muito doentes; muito trabalho; alguma coisinha para as manas”.
Frases incompletas, significativas de que estava por pouco a indústria do papelão ajeitado em caixas com pretensões a enfeites de toucador, ou decoradas com o pomposo título de estojos, quando algumas polegadas de nastro pregadas nas tampas indicavam o local da tesoura, do furador e da agulheta.

Um belo dia desapareceu o José das Caixinhas!
Os jornais que escrevem os necrológios de todos os pais e de todos os maridos que se deixam morrer, esqueceram-se de registar o passamento deste exemplar dos bons irmãos.
O José das Caixinhas, que era um filósofo prático, que não incomodava a letra redonda mas lia no grande livro da natureza, não mereceu a mais leve comemoração dos seus confrades, nem uma dessas frases feitas com que os vivos enxovalham a memória dos mortos!
Pobre mano das manas! (*)

(*) - Luís Augusto Palmeirim – Galeria de Figuras Portuguesas – Lisboa – Portugal (1879)

L. A. Palmeirim nasceu e faleceu em Lisboa (1821-1893). Além de escritor, foi também director do Conservatório de Lisboa.

Fotos de Deyvis Malta (1.ª) e Dias dos Reis (2.ª e 3.ª).

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Notícia de Jornal (Manuel Bandeira - Brasil)


Notícia de Jornal

João Gostoso era carregador de feira livre
e morava no morro da Babilônia
num barracão sem número.

Uma noite
ele chegou no bar Vinte de Novembro
bebeu
cantou
dançou
depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas
e morreu afogado.

Manuel Bandeira - Brasil (1886-1968)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Tempos Antigos - Cuba


Cocheiro com cavalo e carruagem

Fonte: Álbum Pintoresco de la Isla de Cuba - Cerca de 1850 - Habana - Cuba.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

domingo, 3 de janeiro de 2010

Aberturas de Grandes Livros - "Recordações da Casa dos Mortos" (Dostoievski - Rússia)



“No meio das estepes, das montanhas ou das florestas intransitáveis das distantes regiões da Sibéria, encontram-se, de longe em longe, pequenas cidades de mil ou dois mil habitantes, com as casas todas construídas de madeira, muitíssimo feias, tendo duas igrejas – uma ao centro da povoação, outra no cemitério – ou melhor, cidades que mais parecem uma aldeia sossegada dos subúrbios de Moscovo do que uma cidade propriamente dita.
Nelas vivem, a maior parte do ano, grande número de agentes da polícia, de adjuntos e outros funcionários subalternos. A compensar o frio intenso da Sibéria, os serviços oficiais são ali muito bem remunerados.



Os habitantes são pessoas simples, sem ideias avançadas, de costumes antiquados, tradicionais e consagrados pelo tempo. Os funcionários, que são o maior contingente da nobreza siberiana, ou são indivíduos da região – siberianos dos quatro costados – ou então vieram da Rússia.
Estes últimos chegam directamente das capitais das províncias, atraídos pelos bons ordenados, pelas subvenções extraordinárias para as despesas da viagem e por outras não menos tentadoras esperanças de futuro. (…)


(…) Foi numa dessas pequenas cidades – alegres e sempre satisfeitas de si mesmas, e cuja amável população me deixou indelével lembrança – que travei conhecimento com um exilado, Alexandre Petrovitch Goriantchikof, ex-fidalgo e ex-proprietário da Rússia.
Fora condenado a trabalhos forçados de segunda ordem por ter assassinado a esposa. Depois de ter cumprido a pena – dez anos de trabalhos forçados – vivia despreocupado e passando despercebido, como colono, na pequena cidade de K. (…)”

Recordações da Casa dos Mortos - Dostoievski - Rússia (1821-1881) - Publicado por Editora Livraria Progredior - Porto - Portugal - 1951.