domingo, 29 de julho de 2007

(Ecos do Século XIX) - Carregue-lhe, Senhor Ministro da Fazenda!





Alberto Pimentel viveu entre 1849 e 1925.
Dedicou-se ao romance, ao teatro, à história, ao ensaio, à poesia, à intervenção política.
Esgrimia com pena afiadíssima e certeira.
O País, claro, era outro, os homens eram outros, as aflições, as injustiças e as desigualdades eram outras.
Eram?

"Mas isto é um país delicioso, que não precisa de governo para coisa nenhuma! Isto é um país que a si mesmo se governa com tanta alegria como juízo! E quando os povos são alegres, são felizes. Viva Deus! Mas que importa o déficit de 6.000 contos! Até lhe podemos dar licença de ser de 7.000 como a expedição dos bravos do Mindelo ou de 10.000 como os soldados de Artaxerxes.

Oh! que delicioso país!, oh! que grande pena que eu teria se, em vez de haver nascido em Portugal, fosse francês, e tivesse agora a entristecer-me o espírito a medonha trapalhada do istmo do Panamá! Mas que vi eu que pudesse justificar este veemente solilóquio?

Ah! sabem o que eu vi? Duzentas, trezentas carruagens, brilhantes de vernizes e de brasões, tiradas por cavalos magníficos, governadas por cocheiros encadernados em boas librés, subir a Avenida, descer a Avenida, tornar a subir, tornar a descer, passar, voltar, a trote moderado, para que a gente pudesse ver à vontade as caras felizes, resplendorosas das pessoas que essas centenas de carruagens conduziam.

Ah! ele é isto!, disse eu com os meus botões. Então não é realmente preciso que todos façam o sacrifício de apertar os cordões à bolsa para salvar o País?! Não há necessidade de que o Estado faça uma emissão de papel-moeda, nem é necessário tributar os filhos varões? Não tem razão o Comércio do Porto para se retrair, nem os Bancos motivo justificado para pedirem mais do que um auxílio moral?! É certo que não temos por cá Panamás, nem outros istmos escandalosos, mas que, pelo contrário, navegamos em mar de rosas, com vento fresco?

Pois bem! Senhor Ministro da Fazenda, carregue-lhe na mola, que isto ainda tem muito que dar; aperte o fiado, que isto ainda pode render muito. E não trate de outra coisa, Senhor Ministro da Fazenda, senão de restaurar a debilidade do Tesouro, porque decretos, portarias e regulamentos não são cá precisos.

Isto é um país que se governa por si mesmo, principalmente ao domingo. Aqui há ainda muita vida, muito miolo, muita matéria colectável.
Carregue-lhe, Senhor Ministro da Fazenda!

O Governo que faça uma experiência. Cerceie mais os juros das inscrições, aumente as décimas, reduza os ordenados dos funcionários a 50 por cento e verá que, logo no domingo seguinte, à mesma hora, à hora aristocrática, quatro da tarde, duzentas carruagens sobem a Avenida, descem a Avenida, passam para cima, passam para baixo, passam e repassam cheias de pessoas ricas, de pessoas felizes, cheias de contribuintes contentes como umas páscoas.

E deixem chegar a Lisboa os deputados sem subsídio. Vê-los-ão de carruagem aos três em cada banco - única economia que tenho visto fazer agora aos que pagam contribuição sumptuária - alegres, bem dispostos, de violetas ao peito, de charuto na boca, passeando na Avenida o seu único diploma ou o seu duplicado de diploma, sem sequer se lembrarem do subsídio que Deus lá tem, vai para dois meses.

Isto é que é!, e o mais são Panamás, misérias da França e dos outros países pobres. As libras não fazem cá falta, as pautas não estragaram nada, as reduções e deduções ainda não fizeram uma vítima.
Aqui há massa, aqui há miolo.
Carregue-lhe, Senhor Ministro da Fazenda, que é o que o país precisa!"

(Alberto Pimentel - Vida de Lisboa - Parceria António Maria Pereira, 1900)

sábado, 28 de julho de 2007

Hereros de Angola - (Os Cuvales)






"Durante o século XVI, os Hereros, pastores negros que viviam na região dos Grandes Lagos, no Leste de África, voltaram costas aos solos gastos do que havia sido até essa altura a sua pátria. Deram então começo com o seu gado a uma extensa viagem para sudoeste, em busca de pastos e sobrevivência.

Segundo o que se presume ter sido um dos seus itinerários, irromperam pelo que viria a constituir, muitos anos mais tarde, a fronteira oriental de Angola. Rumando a ocidente, atravessaram o coração do Bié, contornaram por norte os domínios das tribos nhanecas-humbes e desceram enfim do planalto em direcção ao mar, um pouco abaixo da actual Benguela.




Achavam-se agora numa faixa de território espartilhada entre as vagas do Atlântico e as cadeias montanhosas da Chela. Era uma imensidão escalvada e pedregosa, crestada de mil sóis, com pouco mais de uma centena de quilómetros de largo nalguns pontos.

A vegetação, definhada e triste, animava-se a espaços com manchas de arbustos e arvoredos ralos. Para os lados do mar desdobrava-se um cordão arenoso de enseadas e baías, divididas por arribas de um dourado vivo, confinantes com o deserto do Namibe. Na parcela mais meridional deste mundo inóspito estendiam-se grandes dunas movediças, a que as ventanias salgadas arrancavam turbilhões espessos que encobriam a luz solar (...)

Secos, altivos e ferozmente independentes, os Cuvales chegaram ao território com as suas mulheres de invulgar beleza - os olhos amendoados e cintilantes, o sorriso enigmático, a cabeça coberta pelo gracioso chapéu de pele de carneiro - e procederam sem delongas à conquista das áreas mais fecundas. (...)

Senhores de uma nova pátria, desembaraçados de qualquer oposição séria, os Cuvales, tal como os restantes hereros, disseminaram pelo território a sua lei (...)." (*)


(*) FONTE - José Bento Duarte - Senhores do Sol e do Vento - Histórias Verídicas de Portugueses, Angolanos e Outros Africanos - Editorial Estampa - Lisboa, 1999


Sobre este livro, ver mais pormenores - aqui


Belezas de Angola - (Raparigas Muílas)














































Arte de Angola
































































(Ecos do Império Luso) - Deserto, Fim de Tarde...

Deserto do Namibe, sul da África,
repartido por Angola e pela Namíbia.
Parte do mundo onde os Portugueses gastaram séculos, orçamentos, vidas, ilusões...

Galiza e Portugal nos Inícios do Terceiro Milénio (ou As Ironias da História)


          Do Jornal de Notícias (4 de Junho de 2007):

Galiza deixa o Norte para trás

Os indicadores económicos mais recentes não deixam margem para dúvidas, a Galiza atravessa o período mais próspero da sua história e promete, até, superar todos os índices de crescimento de Espanha. A produtividade dispara, impulsionada pelos sectores da indústria e serviços.

O contraste com a crise que se vive na Região Norte de Portugal é evidente. Dois exemplos: o salário médio galego já vai nos 1240 euros, o dobro da Região Norte, que se fica pelos 635 euros. A taxa de desemprego da Galiza desceu para o nível mais baixo dos últimos 25 anos, enquanto no Norte continua a subir e a bater recordes pela negativa.
"O Norte de Portugal e a Galiza estão a viver dois ciclos completamente diferentes. Enquanto aqui se viveu um ciclo de recessão e de estagnação económica que perpassou pelo país a partir de 2001, a Galiza viveu o ciclo de crescimento de que a Espanha gozou nos últimos três anos", explica o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), Carlos Lage, evidenciando que a prosperidade galega de hoje resulta de "boas opções em matéria de política macro-económica e de despesa pública", aplicadas ao território espanhol no seu todo.

O mais recente relatório sobre a conjuntura económica divulgado pela Junta da Galiza confere o cenário de franca expansão económica. "Ao longo de 2006, a economia galega evoluiu muito favoravelmente. A taxa de crescimento do PIB atingiu 4,1%, superando a do conjunto da economia espanhola (3,9%)", relata o documento, onde consta, também, que rompendo tendências anteriores, o sector da indústria é o que apresenta maior dinamismo.
"A produção industrial registou uma sensível recuperação, com uma variação média durante 2006 em relação ao ano anterior de 7,7%, o que, além de dobrar a média espanhola (3,7%), constitui o nível mais alto de sempre", lê-se no relatório. (...)

A Galiza está com uma pujança económica, política, cultural e com uma capacidade de afirmação muito grande. Já não é aquela Galiza que a Rosalia de Castro cantava, um território pobre, de emigrantes, subalterno", explica Lage, vincando que os "progressos extraordinários" dos vizinhos galegos não passam despercebidos. Outro sinal da prosperidade galega é o facto de a taxa de desemprego, sempre elevada e que há muito trazia os galegos com o coração nas mãos, ter caído de 9,9% (2005) para, pela primeira vez no último quarto de século, os 8,5%.

Carlos Lage entende que, associada a outros factores, esta reabsorção do desemprego, que "era massivo", indica que a Galiza "passa pelo seu pequeno milagre económico", num evidente desfasamento face ao Norte de Portugal.
Lage acrescenta que, apesar das vincadas desigualdades, Portugal beneficia dos bons ventos que sopram do outro lado da fronteira.
"O galego tem hoje um maior poder de compra e isso também é bom para o Norte. Vê-se muito galego que frequenta as nossas cidades, restaurantes e equipamentos culturais", sustenta, referindo também que "o mercado galego é fundamental para a exportações do Norte de Portugal e até do país".

Uma das grandes surpresas que porventura deixaram boquiabertos analistas e estudiosos que trabalham em Lisboa foi ter percebido que a Galiza é o quinto mercado para as exportações portuguesas", diz Lage, concluindo que a situação galega proporciona "esperança" que o mesmo aconteça no Norte de Portugal. "O pêndulo vai e vem. É possível que entremos num ciclo económico ascendente e possamos recuperar", nomeadamente se a Região Norte adquirir "mais autonomia política e administrativa". Uma das vias para o "progresso e o êxito".

Automóveis na vanguarda

O sector automóvel garante todos os anos à Galiza receitas de milhões de euros, estimula o emprego e o crescimento do PIB. Uma indústria que não pára de crescer e que tem cada vez mais peso na economia local. Segundo dados oficiais do Governo Regional, o "cluster" da indústria automóvel inclui mais de 70 empresas, que representam uma facturação anual superior a 2600 milhões de euros. No que toca a componentes, a fábrica da Citroën (grupo PSA) de Vigo absorve 36% do total da produção das várias empresas da região, 21% destinam-se a outras unidades de Espanha e os restante 43% seguem para exportação.

Os postos de trabalho que a indústria automóvel emprega na Galiza ronda os 20 mil. Destes, metade respeita ao Centro de Vigo do grupo PSA e o restante às fábricas de componentes. O progresso desta indústria na Galiza há muito que tem reflexos na economia portuguesa, com a implantação de um grande número de fábricas de componentes para automóveis, principalmente na Região Norte.

"Vigo é uma cidade de trabalho" (José Pastor, empresário português na Galiza).

O clima de prosperidade que transpira da Galiza captou, há sete anos, a atenção do fotógrafo português José Pastor, 50 anos, que desde essa altura se divide entre Viana do Castelo e Vigo, onde criou, com a desenhadora de moda galega Rita Vidal, uma empresa de fotografia de moda e de publicidade. Admite que a opção pelo mercado do outro lado da fronteira aconteceu "por intuição", mas hoje em dia Pastor apresenta muitas razões racionais para a justificar.

Um livro com imagens suas, intitulado "Vigo, cidade de trabalho", resume-as de uma penada "Os galegos sabem que é pelo trabalho que ficarão grandes", conta o fotógrafo. "Nunca trabalhei tanto na minha vida. Os ritmos de trabalho são totalmente distintos, os tempos, a qualidade que é pedida, tudo é diferente".

José Pastor critica a "falta de alma" do português e não se cansa de elogiar o espírito aberto, o empreendedorismo e a capacidade de trabalho galegos. Confessa que devido à "concorrência feroz" que caracteriza qualquer mercado na Galiza a sua implantação não foi fácil.
"Os galegos falam grosso e buzinam muito e pensamos que é por nós sermos portugueses, mas não. É assim entre eles. Concorrem entre si, porque o galego está habituado a lutar pelas coisas. As empresas trabalham para estar à frente umas das outras em qualidade, embora de forma leal".
Pastor acrescenta que ainda há "duas Galizas": "Uma que é quase uma extensão do nosso país, que pensa que nós, como eles, não temos nada. Outra, que se afasta de Portugal, mais cosmopolita, urbana, inovadora, criativa, empreendedora… E essa é cada vez mais a Galiza de hoje".

"Hoje sou um médico português" (Carlos Salgado, galego)

Carlos Salgado, médico galego em Portugal.Carlos Salgado, 50 anos, clínico de medicina familiar, natural de Ourense, trocou a sua residência na cidade de Santiago de Compostela por Tui, para poder viver - com a mulher, enfermeira, e os seus três filhos - mais próximo de Ponte de Lima, onde exerce a profissão há sete anos.
Salgado integrou a leva de médicos espanhóis que rumou a Portugal na última década à procura de melhores condições de trabalho. "Naquela altura havia muitas dificuldades de trabalho na Galiza e víamos Portugal como uma oportunidade. Era um mercado que nos criava grande expectativa", conta o médico. A tentativa de encontrar "estabilidade" fê-lo arriscar uma mudança que acabou por se revelar positiva.

"Hoje em dia não sou um médico espanhol, sou um médico português", afirma, frisando "Passo mais tempo em Portugal que na Galiza". De resto, as semelhanças entre a terra que o viu nascer e aquela onde actualmente se sente "perfeitamente integrado" não serão assim tantas. "Sou galego de pura cepa. Se tiver de escolher, escolho a Galiza, mas se há algo parecido com a Galiza neste mundo é Portugal. Ali só não temos tanto sarrabulho", brinca.

Carlos Salgado, coordenador da Urgência do Hospital de Ponte de Lima, faz questão de lembrar que a afluência de profissionais de saúde espanhóis ao Norte de Portugal foi vantajosa para os médicos que, como ele, finalmente encontraram condições de trabalho dignas, mas também para a população portuguesa. "Quando cheguei a Ponte de Lima havia 10 mil utentes sem médico de família. Hoje isso já não acontece, também graças aos médicos espanhóis", refere.

(Ana Peixoto Fernandes in Jornal de Notícias de 4 de Junho de 2007)

(Ecos do Século XIX) - O Galego em Lisboa




I - O Galego em Lisboa
 (por: Princesa Rattazzi)


A Princesa Rattazzi (1831-1902), como era designada, foi publicista, romancista, poetisa, autora também de textos dramáticos e tradutora, mas não entrou certamente para a galeria dos autores literários de grande, médio ou pequeno relevo.
Todavia, em 1879 escreveu um livro ("Portugal de Relance"), que desencadeou uma verdadeira tempestade em Portugal, na qual intervieram, entre muitos outros, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental e Ramalho Ortigão.
Espelho da sociedade portuguesa do século XIX, nele ainda hoje se reflecte arrebatadamente o país.


"Em todas as esquinas de Lisboa deparam-se-nos moços de fretes e recados e aguadeiros, oriundos da Galiza. Os seus trabalhos aqui correspondem aos dos auvernianos e saboianos em Paris.

São montanheses robustos, pacientes, corajosos, que não se recusam a nenhum trabalho penoso a troco de algumas moedas de cobre, aumentando assim o seu pequeno tesouro, que vão mandando para o torrão natal com o fim de comprarem algumas jeiras de terra.

Gozam da fama de honestos, merecidamente adquirida; muitos têm o encargo de cobrarem somas importantes para os patrões, e é um facto extraordinário queixar-se alguém da probidade do galego.

Laboriosos e honrados, estão, ainda assim, sob a completa dependência dos Portugueses. Basta a sua qualidade de espanhóis para serem asperamente tratados pelas pessoas que os empregam. É um galego!, dizem. Isto é: um ente grosseiro, desprezível, que não merece consideração nem delicadeza de espécie alguma.

Um português compra uma ninharia qualquer, um objecto pequeníssimo: não querendo dar-se ao trabalho de o levar, chama um galego, entrega-lhe o embrulho - que pesa às vezes três gramas -, e é seguido pelo moço até ao seu domicílio.

Assim pratica ele um acto de soberania e de supremacia - e tudo isto a troco de 30 ou 40 réis! Só quem está em muito más circunstâncias é que não goza de tão modesto prazer.

Não há para um português injúria mais grosseira do que compará-lo a um galego!"


(Maria Rattazzi - Portugal de Relance - Ano de 1879)

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II - O Galego em Lisboa (por: Alfredo Saramago)

"(...) Galegos são mesmo os naturais da Galiza, na Lisboa antiga era nome dado a moços de fretes, recados, e moços de esquina (o que quer que tal signifique...).

Venho a descobrir, com esgar triste e repelente, que em sentido figurativo, o dicionário refere o uso de galegos para pessoas ordinárias, fracas, de pequeno valor.
Creio estar perdido há muito este valor do termo.
Em geral o som da palavra coloca um sorriso na face. Do outro lado do oceano, porém, a palavra adquiriu sentidos diversos. Não vou verificar, refiro só o que recordo. Recordo que é adjectivo aplicado a pessoas que trabalham muito (como aliás também sucedia em Portugal, (...)embora geralmente poucos jovens o saibam) (...)

(...) Os senhores da água, os galegos, merecem uma nota que os separe dos que aparecem sempre na sua companhia, como negros, mulatos, mouros, etc... Por duas razões: porque em finais do século XVIII já eram 60 000, número considerável em relação à população total de Lisboa, e porque a sua acção foi importante na história da alimentação da cidade, tão importante que essa acção chegou aos nossos dias transmitindo usos que se transformaram em emblema da cidade como, por exemplo, as populares "iscas com elas".

Era gente forte, muito robusta, preparada para trabalhos pesados, que tinham como característica principal serem muito económicos. Não se metiam em brigas, e nunca eram tidos como culpados de qualquer roubo ou crime.

Eram orgulhosos e desembaraçados e raramente ofereciam os seus préstimos, aguardavam que alguém os pedisse. Os galegos em Lisboa eram vendedores de água, moços de frete de corda ao ombro, moços de lojas e armazéns, criados de hospedarias e casas particulares, cocheiros, trintanários, varredores de ruas e empregados das tabernas e casas de pasto. Foi nesta actividade, e na de aguadeiro, que se tornaram conhecidos e que se enraizaram na cidade.

Trabalhavam muito, viviam economicamente e, depois de juntar algum dinheiro, partiam para as suas terras e compravam um terreno.

Em 1801 houve uma tentativa de os expulsar por causa da guerra, mas o Intendente Geral da Polícia avisou que, expulsando-os, deixava de haver quem servisse a cidade. Foram deixados em paz e continuaram.

Em relação aos criados portugueses, mais subservientes, os galegos eram mais orgulhosos, mais limpos, mais fiéis e mais sóbrios. Quando chovia e a lama deixava as ruas da cidade em estado lastimável, eram eles que carregavam as pessoas. Os que vendiam água iam encher as suas barricas decoradas aos chafarizes e depois apregoavam a "áááágua freeesca, frisquinha, quem quer beber áugua freeesca?". Vendiam cada copo de água a 5 réis. [...]

(Alfredo Saramago, Para Uma História da Alimentação de Lisboa e Seu Termo)
(Blogue Quiromancias - 22 deAgosto de 2006)

Lugares da Península - A Caminho de Granada



...Entretanto, mais poderosos que as polémicas, os lugares continuam, a terra permanece, a beleza e a sensibilidade ocupam triunfalmente esta bela Península multinacional em que temos a sorte de viver.

Do blogue Língua de Mariposa, uma viagem fascinada e inesquecível da brasileira Nora Borges:

"Quando soube que iria visitar Granada, eu sabia muito pouco sobre a cidade, mas já tinha em mente três coisas muito importantes para ver.

A primeira era a Alhambra, a cidade-fortaleza do último reino nazarí em Espanha, o monumento mais visitado do país.
A segunda era estar em Fuentevaqueros e na casa de Garcia Lorca.
E a terceira era conhecer a Capela Real da Catedral de Granada onde estão os restos mortais de Juana, la Loca.

Na época eu havia acabado de escrever alguns posts sobre ela e estava encantada em poder estar na mesma cidade onde a rainha havia desejado, inutilmente, enterrar o seu amado Felipe, el Hermoso. Talvez eu traga também para cá os posts sobre Juana. Vou pensar. Eu gostei tanto de escrevê-los!

Pero… há que respeitar os ensinamentos de Kavafis e aproveitar a viagem, antes de alcançar qualquer destino.
Aproveitei cada segundo da viagem de Madrid até Granada. É belíssima! E como eu sabia que passaria pela Rota de Quixote, não tinha pressa alguma em chegar. Admirei com calma a vegetação, os vinhedos espalhadas pelos dois lados da estrada, as bodegas de vinho, os moinhos de vento.

Para ir à Andaluzia desde Madrid é necessário atravessar Castilha La Mancha. E, como todos sabem, por aqui estiveram em espetaculares aventuras, Don Quixote e Sancho Pança, na fértil e prodigiosa imaginação de Miguel de Cervantes.

Na minha era como se os famosos personagens tivessem existido de verdade. Não canso de afirmá-lo, porque é assim que me sinto. Sempre. Para mim é como se tivessem feito parte da verdadeira história do lugar. Ali a fantasia e a realidade se entrelaçam de tal forma que eu podia ver sombras na colina, mais além do castelo e dos moinhos… e parecia escutar um murmúrio no ar que dizia: " En algun lugar de La Mancha, de cujo nombre no quiero acordar..." Me emocionei... soprei, quis ficar ali. Por que temos tanta pressa em chegar se há momentos tão especiais para deixar-se estar?

Deixei-me estar, imaginando ver e ouvir o cavaleiro andante, o louco e sonhador fidalgo suspirando por sua amada Dulcinea e lutando contra os moinhos de vento como se fossem perigosos gigantes enfeitiçados pela negromancia de seus inimigos invisíveis!

Prometi a mim mesma voltar ali para estar um dia inteiro, talvez dois. Há uma programação turística que leva pessoas de Madrid até essas paragens. Os moinhos foram recuperados, há restaurantes e pousadas lindas. Vale a pena!
Sugiro que venham... e deixem-se estar entre os caminhos por onde Don Quixote cavalgou com Rocinante e com o inseparável escudeiro e amigo Sancho. Sugiro que, "mientras tanto", se puderem, escutem as músicas de El Hombre de La Mancha… deixem que lhes falem ao coração.
E então compreenderão que não há pressa alguma em sair dali...


Entre Castilha La Mancha e Andaluzia, há uma estreita e perigosa passagem entre as montanhas de Sierra Morena. Gostei do nome. A passagem é a única possível para viajantes em carro partindo de Madrid. Vale o medo da estrada-serpente pela grande beleza de costear o Desfiladeiro de Despeñaperros. O nome é meio estranho, mas descobri que o signicado real vem da época das guerras entre moros e cristãos, em torno dos anos 1200. Esta passagem dificultava o avanço dos árabes para a região e quando estes perdiam as batalhas eram chamados de perros ( cães ) e executados sem apelação, sendo atirados nas profundas gretas entres os enormes rochedos.

Por ali há um bar e restaurante chamado Casa Pepe. É um rincão interessante, pois guarda muitas fotos, recortes de jornais e referências à época franquista espanhola. O dono é um dos fãs mais fiéis de Franco e de seu regime fascista "desde que nasceu".É tão espalhafatoso que o lugar foi ficando famoso dentro e fora da Espanha. " Se houvesse um prémio ao local mais "kitsch" do país e de vocação mais fascista ele ganharia a medalha de ouro." Garante o jornal espanhol El Mundo. É um lugar para descer do carro e tomar um café ou uma cerveja, tirar umas fotos ou comprar alguma "recordação" de sua passagem, se é que interressa ao passante. Ele vende bandeiras, queijos com a cara do Caudillo (???... para meter a faca, é?), dedais com os símbolos da Falange, soldadinhos de chumbo. Mesmo que atualmente seja "politicamente incorreto", eu parei. Gosto de ver tudo.

A partir do desfiladeiro a paisagem muda completamente. E começam os grandes campos de olivos, famosos pelo bom azeite que produzem. Reconheci um cheiro no ar que invadiu minhas narinas e trouxe da memória lembranças de infância. Era um cheiro igualzinho ao do vinhoto da cana de açúcar nordestina. Pensei em Lorca e seus cantos. Nos poemas que cheiravam à Granada em plena Nova York.

" Mi Pueblo: Quando eu era menino vivia em um povoadozinho silencioso e perfumado da vega de Granada. Tudo o que nele ocorria e todos seus sentires passam hoje por mim velados pela nostalgia da infância e pelo tempo. Eu quero dizer o que sentia de sua vida e de suas lendas. Eu quero expressar o que passou por mim através de outro temperamento. Eu anseio referir as distantes modulações de meu outro coração"

Quisera ser poeta também para escrever o que contam minhas raízes! Elas guardam as memórias gravadas pelos cinco sentidos, por onde quer que eu vá.
Pois sim...antes de entrar em Granada fui ver o pueblo onde nasceu Federico Garcia Lorca, cruzando um caminho sombreado e lindo de chopos.
Mas Fuentevaqueros me pareceu uma cidade fantasma. E era.

Naquela tarde, às quase 5 da tarde, não havia uma alma nas ruas... nem um jovem de bicicleta, nem uma criança, nem um velho sentando solitário em algum banco público. Nada... Apenas o sol causticante sobre as casas de janelas pequenas, cobertas por cortinas estampadas. Havia também cortinas nas portas. Com certeza para que o ar pudesse circular sem trazer as moscas, nem perderem suas intimidades. A gente podia apenas imaginar a vida por trás das cortinas...um costume herdado dos árabes e também muito utilizado nas quentes cidades do interior nordestino.

A Casa Museu é o número 4 da rua García Lorca. E estava fechada. Desta vez, com porta de madeira, sem as cortinas que indicam vida, por mais escondidas que estejam. Era a hora final da siesta espanhola e nem a sorveteria estava aberta.
Suspirei de sede e decepção. Mas não desisti. Finalmente encontrei um pequeno cartaz que dizia: Horários de visita : 5:00h, 6:00h e 7:00h da tarde. Uff! Faltavam apenas três minutos para as cinco!

E, "às 5 en punto de la tarde" (uma referência a um dos seus poemas mais conhecidos) a porta se abriu e um homem apareceu perguntando se queríamos ver o museu. Compramos as entradas e como num passe de mágica, apareceram mais doze pessoas. Onde estavam eu não sei. Soube depois que só atendem 15 de cada vez. Éramos 14... A porta se cerrou à nossas costas e o calor do sol desapareceu.

Como todas as casas da Andaluzia, a Casa de Lorca tem um pátio e um poço. E toda ela rescende a jasmim e frescor. Vi suas pinturas de criança, seu quarto e seu berço, a cozinha e seus utensílios... um piano...Só ali eu soube que ele também tocava piano e compunha belas canções.

A casa é muito simples. Vale pelo sabor de estar dentro da história do grande poeta. Não esperem um museu de verdade... ela não o é.
Na parte de cima, no antigo celeiro de grãos, havia uma pequena exposição, que varia de tempos em tempos. Coube-me a do momento, sobre as cartas e fotos que o poeta trocou com sua grande amiga, Anna Maria Dalí, irmã do pintor surrealista espanhol, Salvador Dalí.
De cara, dei com o quadro que eu adoro e que conheci no Museu Rainha Sofia, em Madrid. Era como encontrar uma velha amiga minha. Inclusive já utilizei-a num dos posts da história para estar aqui.
Chama-se Muchacha en La Ventana.
Que delícia é viver devagar e observar pequenos detalhes que fazem as coisas mais belas!"

Ps. Este post é uma adaptação de antigos arquivos do Cicatrizes da Mirada.
Posted by Nora Borges on setembro 5, 2006 2:06 PM
(Do blogue: Língua de Mariposa)

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Saramago, o Iberismo e a Opinião de um Espanhol



Chegou à Torre a opinião de um espanhol, que devemos a Água Lisa (o blogue de João Tunes):

Interessante para a polémica, que vai brava, sobre o Saramago e o seu iberismo, conhecer a opinião de um espanhol. Por exemplo, a do companheiro “popular maiorquino”, Daniel:

"No discutiremos su calidad literaria, aunque podríamos.
Yo solo fui capaz de leer, con gran esfuerzo "La Caverna" y "La Balsa de Piedra", esa prosa farragosa y pesada.
Con "Ensayo sobre la ceguera" ya no pude.
Leer a Saramago es como tragar un pedazo de pan seco que no acaba nunca de bajar por la garganta.
Pero le dieron el premio Nobel, y habrá quien disfrute con sus obras. En fin, si solo se dedicara a escribir, no pasaría nada. Para gustos, colores.
Sí es más discutible su calidad como profeta.
Iberia ya existe desde hace muchos siglos, dividida en dos estados: Portugal y España.
Y puede que desde su retiro canario, alejado del mundanal ruido, haya olvidado los problemas internos que sufre España.
De otro modo no se explicarían sus ejercicios geográficos de salón tan fuera de lugar.
Saramago se equivoca, o busca protagonismo, quién sabe.
Sus palabras parecen venir del resentimiento más que de las convicciones.
Y creo que en Portugal tiene pocos amigos."

(Publicado por João Tunes)

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Iberismo (Defesa de José Saramago)


Ferreira Fernandes, sempre conciso e directo, no Diário de Notícias de hoje:


"LEVANTÁ-LO DO CHÃO?
ELE NÃO ESTÁ AÍ


Saramago foi acusado de tudo, até de traidor. Porque disse que amanhã vamos ser Espanha. Nem disse que gostava que assim fosse, disse como quem diz o inevitável: "Amanhã a Terra acaba." Vamos insultar os cientistas que garantem isso?

Não uivarei com os lobos. Saramago tem mais de 80 anos e continua a trabalhar. Ele paga os impostos em Portugal, podendo não o fazer. Eu, que vivo em Portugal, não cuspo para a sopa.

Outra coisa, ele tem uma profissão útil: escreve (não vende, por exemplo, pit bulls).
E escreve em português. Num país que diz tanto "a minha pátria é a língua portuguesa", é contraditório com ser traidor.
E escreve bem português: não discuto se é ou não grande escritor, digo que não escreve "çamarra". Logo, não lesa a pátria (a língua).

Ah!, e ele ganhou o Nobel de Literatura. Ao alcance de qualquer um, eu sei, mas não é o mesmo que ser administrador em fábrica do sogro. Ou é?

E ainda: ele tem 80 anos e ama. Gostava de ver o caixote do lixo de quem tanto o despreza. "

Iberismo (Ibéria: capital Lisboa)




Transposto de O António Maria:


Ibéria: capital Lisboa


"Não sou profeta, mas Portugal acabará por integrar-se na Espanha" - José Saramago in Diário de Notícias online, 15.07.2007

Não fora o homem estar eterna e agradecidamente enamorado de uma linda sevilhana chamada Pilar del Rio, que muitíssima importância teve para o êxito internacional do escritor ribatejano, e o assunto do seu reiterado iberismo mereceria, de facto, extenso debate, em vez da urticária que atacou imediatamente alguns arautos profissionais da portugalidade. No entanto, o "sentido de oportunidade" da sua entrevista ao Diário de Notícias, fazendo-a coincidir com a visita do rei de Espanha a Portugal no âmbito da presidência portuguesa da União Europeia, teve o esperado condão de excitar os espíritos fracos de ambos os lados da fronteira.

O El País excita-se sempre nestas ocasiões e descobre, espantado, que Portugal existe (e continua a ser apetecível), e o Manuel Alegre (que parece ter-se esquecido dos seus mais recentes compromissos com o movimento de cidadãos que desencadeou, e sobretudo com parte importante da base militante e simpatizante do PS) fez previsivelmente ouvir a sua voz adamastórica: "Ele (Saramago) tem a responsabilidade de ter ganho o Nobel da Literatura com a língua portuguesa".


Saramago regressa às "portadas" dos jornais e televisões, e à netosfera, com uma questão típica do século 19: o iberismo. Homens de uma bem mais notável craveira intelectual que Saramago, refiro-me a Miguel de Unamuno, Antero de Quental, Teófilo Braga e António Sérgio, ou mesmo a escritores seus contemporâneos, como Miguel Torga, António Lobo Antunes e Eduardo Lourenço, sonharam ou sonham igualmente com formas mais ou menos evoluídas de iberismo. O já desaparecido José Rodrigues Miguéis, num dos seus deliciosos bilhetes postais publicados no extinto Diário Popular, falava, mais limitadamente, de uma nova quimera que baptizou com o nome Portugalícia.


Em suma, se durante tantos séculos fomos aliados dos ingleses, para nos defendermos dos castelhanos, depois da vergonhosa Conferência de Berlim (1884-1885) e do ultimato inglês a Portugal, rejeitando o Mapa cor-de-rosa (com que Portugal pretendia assegurar uma boa presença na partilha colonial do continente africano então em curso pelas principais potências europeias), tal ideal estratégico chegara irremediavelmente ao fim. Por outro lado, a decadência mais geral e profunda dos povos peninsulares, verberada por Miguel de Unamuno, tornar-se-ia uma realidade cada vez mais pesada de consequências, tanto para os povos ibéricos como para os dois estados que os protagonizam.

A Espanha deixou entrar Napoleão no seu território a pretexto de obrigar Portugal a cumprir o bloqueio contra os ingleses, a decadente corte lusitana, em consequência desta invasão francesa, fugiu para o Brasil. Mais tarde, a derrota espanhola de 1898, na disputa com os Estados Unidos pelo controlo do continente americano, mergulharia este país num declínio económico e político de que só sairia após a morte de Franco. Perdidos os impérios coloniais espanhol e português, findas as ditaduras oportunistas que emergiram da crise finissecular em ambos os países, criada a União Europeia, nada mais natural do que repensar as relações entre os vários povos ibéricos, entre as várias nações históricas da península e entre os dois estados que há muitos séculos protagonizam as suas alegrias e as suas tristezas.

Tudo isto pode e deve ser feito, com tempo, com cautela, com transparência e sobretudo com elasticidade. Mas daí a alimentarem-se ilusões sobre uma nova união ibérica vai um passo de gigante demasiado improvável. A menos que a capital dessa união seja Lisboa, claro!Post scriptum: Há um argumento falacioso, muito bem montado por alguns estrategas do iberismo castelhano, expresso aliás num recente artigo de Santiago Petschen, que convém desmontar a tempo de evitar excessivos optimismos face à utopia de dissolver o secular bicefalismo geo-estratégico da jangada ibérica.
Petschen resume-o de forma fina e sedutora:

"Há alguns anos, depois de uma exposição que li no Instituto de Defesa Nacional de Lisboa, num português macarrónico, dialoguei com os militares sobre as relações entre os espanhóis e os portugueses e surgiram algumas queixas. Perguntei então: estão de mal com os galegos? A resposta imediata foi: não! Estão de mal com os andaluzes? Também não. Mal com os catalães? De maneira nenhuma. Mal com os bascos? Absolutamente, não. E continuei: os estremenhos, os aragoneses, inclusive os manchegos e os madrilenos. Para com todos os mencionados mostraram os dialogantes a sua simpatia. Só apareceu um cliché, resquício de irredutibilidade, o dos castelhanos velhos. Disse-lhes então: os senhores não têm nada a temer. Portugal e Castela a Velha contam com um número parecido de quilómetros quadrados. Mas sobre a mesma extensão encontram-se, em Portugal, dez milhões de habitantes e em Castela a Velha pouco mais de dois milhões. A estatística, tão favorável a Portugal, produziu no auditório desconhecedor do dado uma surpresa. Dissipou-se, com isto, uma percepção errónea." - "O iberismo", Santiago Petschen, Prof. catedrático de Relações Internacionais na Univ. Complutense de Madrid, in DN online
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Como é evidente, o problema do poder não se mede hoje em dia pelo critério demográfico, particularmente se estão em causa escalas tão exíguas. O que conta hoje e no futuro próximo são as grandes concentrações urbanas (Madrid, Lisboa-Porto, Barcelona-Valencia) e os sectores-regiões económico-financeiros, logísticos, tecnológicos, de serviços e político-militares, que as mesmas representam e controlam. Neste sentido, seria imperdoável tolerar que a ingenuidade prevalecesse sobre o realismo dos jogos de estratégia em curso. Madrid pretende hegemonizar radialmente a península ibérica - e para isso, tudo tem feito, no sentido de transformar a capital espanhola numa super-metrópole política e financeira. Lisboa, com o Porto e Barcelona (e Bilbao), não estarão jamais dispostos a sucumbir a esta estratégia, e por isso continuarão a desenvolver esforços para consolidar, sob todos os pontos de vista, os aneis atlântico e mediterrânico, de que a sobrevivência estratégica da península afinal depende.


A União Europeia irá passar nas próximas décadas por duras provas à sua consistência estratégica e à sua governabilidade interna, sobretudo por causa das questões energéticas, ambientais, mas também das que respeitam à imediata questão do alargamento. Deverão a Turquia e Marrocos integrar-se na União Europeia, como pretende a Alemanha e vários estados da União (entre eles, Portugal e Espanha), ou, pelo contrário, formar com o resto do Magrebe uma União Mediterrânica, como quer Sarkozi? Se os EUA atacarem o Irão, e a Rússia sair em defesa deste, que fará a Europa? Qual Europa? Portugal é um estado independente há 868 anos; a Espanha é um reino unificado e independente há 538 anos. Vamos pois deixar, para já, as coisas como estão, e um dia, quando a Europa for o que promete, voltemos então a discutir a organização política da ibéria. "